Boa tarde a todos. Depois de alguma ausência, justifica-se um pouco de informalidade e, já agora, também, de desculpas pelo atraso.
Vivemos, entretanto, uma campanha eleitoral sob o signo do
chega para aqui, não chegues para ali. Questiono-me o que ela teria sido,
especialmente da parte do PS, caso não existisse essa coisa em forma de
partido. Não prometia grande coisa e pequena coisa gerou.
Alguns disseram que a “culpa” do imbróglio resultante é do
PR, por ter dissolvido o Parlamento. Se, efetivamente, a composição da nova
assembleia fossa idêntica à anterior, poderíamos ter concluído que Marcelo nos
tinha feito perder tempo e energias, mas tamanha mudança, significa que ele
tinha razão em pedir aos eleitores para se (r)expressarem e a democracia tem
destas coisas – não são as elites que as decidem.
Sobre a representatividade e coesão, podemos questionar se
será justo Lisboa e Porto elegerem na ordem das 4 dezenas de deputados cada um
e Beja e Bragança três. Já agora, os eleitores das grandes metrópoles conhecem
mesmo os seus representantes, para lá dos cabeças de lista e um ou dois mais?
Sobre a (não)personificação e identificação dos eleitores
com os candidatos, não deixa de ser curioso que, aqui mesmo ao lado, em Viana
do Castelo, o partido anti-anti-sistema tenha elegido o seu cabeça de lista,
Eduardo Teixeira, crónico candidato derrotado à Câmara Municipal de Viana do
Castelo pelo PSD e muito, muitíssimo gente do sistema… encarta um espírito de
rutura? É com ele que vamos “Limpar Portugal” ? Ainda sobre os eleitos pelo
Chega é também curioso que o da emigração Europa, escreva e publique em idioma
híbrido, 90% português, 10% francês. Sem menosprezo pelos méritos específicos que
o senhor possa ter, um deputado devia, no mínimo, expressar-se corretamente na
língua de Camões.
Enfim, aqui CHEGAmos e dizem alguns que faltou pedagogia
democrática. Ah! Este povinho que se recusa a ouvir e a seguir os grandes
educadores iluminados! Recordo-me de uma entrevista do PM cessante em que do
alto da sua maioria absoluta ele dizia: . “Habituem-se!” e para quem o fedor
que exalava da sua proximidade era coisa de casos e casinhos, que interessavam
apenas a uma minoria de comentaristas mexeriqueiros e invejosos.
O crescimento do CHEGA não é salutar e nem é principalmente pela
ideologia professada. Em primeiro lugar porque não a tem. Não há consistência
ideológica: é contra e a favor do que lhe der jeito e votos ser. Depois, e em
boa parte por isso, porque os seus 50 deputados estão longe de ser um grupo com
um mínimo de coesão. Aquela coisa em forma de partido tem alguma virtude em
dizer o que está mal, de uma forma que outros não o dizem, mas um partido é
suposto ser mais do que isso. Coerência e realismo programático não existem,
daí que, mesmo expurgando os seus tiques pouco civilizados – vade retro satanás
–, não me parece viável nenhuma forma de cooperação institucional séria e
consistente com o mesmo.
Quanto ao suposto caráter antidemocrático do mesmo, uma
coisa é ser pouco civilizado, outra coisa é não respeitar a vontade popular e,
se há algo de antidemocracia, ela estará mais do outro lado da barreira, para
quem o voto expresso de um milhão de portugueses é coisa de ignorar – votos e
votinhos?
Em resumo, e a coisa não acaba aqui, o curioso é que a
estratégia do “cuidado, que vem lobo” tenha efetivamente aberto a porta ao
mesmo. No Parlamento atual os partidos do 4º para baixo valem pouco ou nada e
com o 3ª não se pode contar. Imbróglio é certo, mas a culpa (principal) vai
para…
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