07 dezembro 2023

As perspetivas da cunha


Andou mal o Presidente da República neste processo das gémeas luso-brasileiras. Para lá dos detalhes que ainda não sabemos, nomeadamente qual o nível de pressão que ele e/ou a sua equipa colocaram na comunicação da solicitação ao governo, ele esteve especialmente mal com a sua “amnésia” inicial.

Face ao pedido, o governo tinha duas opções: ignorar/recusar ou dar seguimento favorável. Se ignorou, significa que todo o processo teve uma evolução normal, como para qualquer cidadão lambda deste país. Não parece, de todo, ter sido o caso. Se resolveu atender ao pedido, recordando o paralelo com a solicitação para a TAP antecipar um voo, com o simples objetivo de agradar ao PR, aí há outra perspetiva para a cunha, que é a de quem a aceitou. A ter havido favorecimento efetivo, não foi a presidência quem deu as ordens ao hospital.

Em todos os contextos e escalas, se restringirmos o direito a condenar a quem nunca deu uma “palavrinha” a alguém para desbloquear e avançar rapidamente com algo na administração pública, ficam poucos para atirar a primeira pedra.

Estes poderes e privilégios não devem existir no país onde queremos viver e o PR e o Governo têm responsabilidades acrescidas. A relação entre dois órgãos de poder, especialmente a este nível, não pode incluir destas transações. Por muito “tradicional” que seja este “desporto nacional”, pelo princípio e pela escala, o caso precisa de ser esclarecido de A a Z.

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