O surreal episódio do despacho de um secretário de Estado sobre o(s) novo(s) aeroporto(s) de Lisboa, assim como a brincadeira de no final ter sido apenas um erro de comunicação e desculpem lá qualquer coisinha, não deixou de abrir, mais uma vez, a polémica e lançar indecisão sobre o assunto.
Se o Montijo não serve a prazo, realço o se, fazê-lo para o
desativar uma dúzia de anos depois, como quem aluga um carro uns meses à espera
do novo, é um absurdo que nem para ricos. Desenrasquem-se com Beja, Badajoz, outra
coisa qualquer, mas um aeroporto é demasiado caro para ser temporário.
Considerando que esta discussão já tem 50 anos, se nessa
altura se afirmasse que hoje a Portela continuaria a ser o único aeroporto da
capital, tal seria considerado absolutamente impossível. E, no entanto, é. E
espaço para aviões pode escassear, mas para inspetores do SEF arranja-se
sempre. Será talvez difícil pedir mais dinamismo a uma instituição que está no
corredor da morte há demasiado tempo.
O contexto muda e evolui. Há vários sinais que sugerem uma
tendência de redução no tráfego aéreo. Os combustíveis não vão ficar mais
baratos, as limitações às emissões de CO2 irão limitar as deslocações não
essenciais, o turismo e respetiva pressão é algo que não vai continuar a subir
exponencialmente, os confinamentos Covid criaram hábitos de reuniões não
presenciais que parcialmente consolidarão. Precisamos mesmo de um novo e enorme
aeroporto?
Para um investimento desta natureza é importante bem pensar
antes de agir, com dados e perspetivas atuais. Voluntarismo nesta escala é
irresponsabilidade.
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