09 julho 2022

Um tiro no porta-aviões


O surreal episódio do despacho de um secretário de Estado sobre o(s) novo(s) aeroporto(s) de Lisboa, assim como a brincadeira de no final ter sido apenas um erro de comunicação e desculpem lá qualquer coisinha, não deixou de abrir, mais uma vez, a polémica e lançar indecisão sobre o assunto.

Se o Montijo não serve a prazo, realço o se, fazê-lo para o desativar uma dúzia de anos depois, como quem aluga um carro uns meses à espera do novo, é um absurdo que nem para ricos. Desenrasquem-se com Beja, Badajoz, outra coisa qualquer, mas um aeroporto é demasiado caro para ser temporário.

Considerando que esta discussão já tem 50 anos, se nessa altura se afirmasse que hoje a Portela continuaria a ser o único aeroporto da capital, tal seria considerado absolutamente impossível. E, no entanto, é. E espaço para aviões pode escassear, mas para inspetores do SEF arranja-se sempre. Será talvez difícil pedir mais dinamismo a uma instituição que está no corredor da morte há demasiado tempo.

O contexto muda e evolui. Há vários sinais que sugerem uma tendência de redução no tráfego aéreo. Os combustíveis não vão ficar mais baratos, as limitações às emissões de CO2 irão limitar as deslocações não essenciais, o turismo e respetiva pressão é algo que não vai continuar a subir exponencialmente, os confinamentos Covid criaram hábitos de reuniões não presenciais que parcialmente consolidarão. Precisamos mesmo de um novo e enorme aeroporto?

Para um investimento desta natureza é importante bem pensar antes de agir, com dados e perspetivas atuais. Voluntarismo nesta escala é irresponsabilidade.

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