Os States são um grande país que influencia meio mundo (mais de 3/4?) de várias formas e feitios e não apenas pelos jeans, filmes de cowboys e a coca-cola. Inevitavelmente há inúmeros produtos e ideias que são importados e adaptados, preocupando-se eles muito pouco com o tal crime de apropriação cultural, pelo contrário, até o fomentam.
Uma ideia made in USA que foi importada para o mundo
ocidental em geral com tradução deficiente é o mea culpa ad-eternum pela
escravatura e tráfico associado e o correspondente crédito infinito que tais
crimes atestam à comunidade de cor (mesmo estas expressões têm hoje de ser
usadas com pinças). Vamos por partes.
A escravatura não é invenção nem exclusivo ocidental, como
os dois livros acima representados, que li recentemente bem documentam. Se a
escala do tráfico Atlântico foi enorme, o equivalente no Médio Oriente e no Norte
de África, só para falar de realidades mais próximas, não foi quantitativamente
irrelevante nem diferente no princípio nem na brutalidade.
A partir do século XIX a Europa e especialmente a Inglaterra
desenvolve um esforço enorme para acabar com a escravidão e respetivo tráfico
no Mundo. Sim, com a máquina a vapor do lado deles o fim da mão de obra escrava
era do seu interesse económico, mas independentemente da motivação, a ação foi
essa.
O tráfico de escravos em África só acabou após a colonização
europeia em larga escala do continente, durante o século XIX. Sem menorizar todos
os males desse processo, neste campo particular foi decisivo. Portanto, por
motivações e meios questionáveis, o facto é que a Europa está há dois séculos a
lutar contra a escravidão e a erradicá-la dos territórios por ela controlada.
Passemos aos States. Foram os grandes “beneficiários” do
tráfico Atlântico, mas também no século XIX o poder central aboliu a
escravatura, de forma veemente e decidida, provocando uma séria guerra civil
(1861-1865). O que há a acrescentar sobre isto é que os Estados do Sul,
perderam a guerra, foram vencidos, mas não convencidos. Após a retirada das
forças do Norte, arranjaram forma de contornar a “igualdade” constitucional
formal e implementar uma coisa muito feia, que se chama segregação racial,
grosso modo o equivalente do apartheid sul-africano. Este processo vergonhoso
entrou pelo século XX, muito apoiado pela comunidade branca pobre e rural, que aí
via uma oportunidade de promoção automática (a tal supremacia branca). Já não é
escravatura, mas há uma continuidade na recusa de conceder plenos direitos aos
descendentes de africanos, misturando-se os dois conceitos na mesma acusação.
As lutas dos negros (e de alguns brancos) pela igualdade nos
EUA (especialmente no Sul) no século XX têm todo o mérito e razão de ser. Bravo
aos corajosos.
Agora, importar esse contexto para o Ocidente em geral e em
especial para a Europa que há dois séculos luta eficazmente, erradicando o
flagelo de onde pode… é uma contrafação, ou, digamos, um “lost in translation”!
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