O livro acima representado, que li recentemente, é uma vista
sobre a génese, desenvolvimento e desaparecimento da indústria de papel no
estado do Maine, nos EUA, ao longo de mais de um século.
Com o devido respeito pelas distâncias, diferenças e
diversidades, apetece-me desenhar um ciclo típico, que poderá não ser assim tão
específico daquele contexto.
Fase I – Os fundadores. A empresa é criada por alguém e
segue dentro da família, com dono próximo, personalizado e extraordinariamente
ligada à comunidade. Mais do que um emprego para a vida, a empresa é o sustento
de famílias inteiras, em sucessivas gerações. Sem muitas obrigações legais que
a forcem a tal, oferece um conjunto enorme de infraestruturas e serviços
sociais à comunidade. Os trabalhadores, apesar de tudo o que falta, sentem-se
orgulhosos em participar no projeto e no sucesso do seu trabalho.
Fase II – Os seguidores - Esgotada a participação da
linhagem original, a empresa passa a ser dirigida por quadros aí nascidos. Se
bem que a propriedade possa estar já dispersa e parcialmente longe da “terra”,
não têm exigências apertadas sobre o retorno do seu investimento. Assim,
mantem-se na gestão local uma visão de longo prazo e uma pressão moderada sobre
os resultados. Para os trabalhadores o espírito não muda muito e sindicalização
não é sentida como necessária.
Fase III – A degradação – Por falta de enquadramento e/ou de
caráter o ambiente é envenenado por nepotismo, pequenos reis em cada esquina e
iniquidades insuportáveis. Entram os sindicatos.
Fase IV – Gente de fora – A empresa é comprada, vamos supor neste cenário, para já, por outra do mesmo setor. É submetida a concorrência interna, os processos são comparados e questionados, produtos são deslocados e os que agora mandam ainda falam a mesma língua, mas com outro sotaque. A guerra com quem lá está, já sindicalizada, e quem chega e quer mudar é total. A empresa pode ser fechada, por excedentária na nova carteira, redimensionada ou mesmo melhorada. Não remam já com todos na mesma direção, mas antes se confrontam internamente, uns de um lado e outros de outro. As decisões de investimento são algo travadas pela incerteza do clima de litigância.
Fase V – Gente mesmo de fora – Diretamente ou indiretamente
os donos são investidores financeiros, que colocam como objetivo prioritário
absoluto a sua retribuição e a curto prazo. Nomeiam diretamente equipas de
gestão, com esse objetivo, vindas sabe-se lá de onde, que não são minimamente consideradas
nem reconhecidas pela antiga organização de cima a baixo. Aqui, tudo pode
acontecer e o ambiente não é nem nunca virá a ser o da família. A empresa pode
acabar por fechar, como uma grande maioria neste caso, ou não.
Algo que na minha opinião falha no livro em questão é a
ligação e a influencia do meio externo e do mercado. Num cenário protegido a fase
II, onde as pessoas são certamente mais felizes, pode ser viável, mas tornar-se
inviável se o ambiente concorrencial apertar. As empresas necessitam de
capitais para investir e sobreviver; quem os disponibiliza espera naturalmente
resultados, dentro das melhores expetativas. Dificilmente apenas com legislação
se conseguirá proporcionar e forçar um justo equilíbrio entre resultados,
sustentabilidade, respeito pelas comunidades e manutenção de valores sociais
básicos. Depende das pessoas, valores e … cultura. Entre irredutíveis
sindicatos fechados em direitos adquiridos e predadores financeiros que não se
preocupam em matar a empresa desde que o seu retorno a curto prazo seja o
pretendido… há empresa que morrem e pessoas que sofrem. Depende da … cultura.
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