19 dezembro 2024

A falta de um Olimpo


Em contexto cultural fortemente monoteísta, seja de base cristã, judaica ou muçulmana, algum tipo de invocação dos méritos do politeísmo é quase crime. No passado foi mesmo crime e objeto de pesadas penas.

Efetivamente, na construção da relação do ser humano com a transcendência, estamos habituados que o Deus único seja um dos pilares fundamentais e inquestionáveis (e não me confundam com a Santíssima Trindade).

Se a religião serve para dar uma visão alargada da existência, uma dimensão metafísica, elevar comportamentos e promover valores mais altos do que os dos instintos básicos, … será que o mais “eficaz” é acreditar e temer um Deus único, coisa simples de explicar e assimilar?

Sobre o deserto ser monoteísta e a floresta, eventualmente, politeísta, já especulei ali atrás e uma boa parte desse texto encaixaria neste, mas não o vou repetir.

A panóplia de Deuses Gregos (e posteriormente traduzidos pelos romanos), dá múltiplas dimensões e motivações. Mais ricas, menos castradoras…?

A função reguladora de instintos, que a religião promove, obriga a disciplina e, consequentemente apresenta a ameaça de castigos terrenos ou divinos. Mas não haverá algum exagero redutor e pobreza intelectual derivados de tanta simplicidade, rigor e severidade…?

Acredito que para muitos a religião e a fé têm uma dimensão dogmática que vai muito para lá destas especulações racionais e heréticas. Acredito também que outros se possam sentir perdidos e ter dificuldade em definir uma hierarquia entre Atena e Baco…

Mas também acredito que o esforço para conseguir um mundo melhor tem dimensões e fontes de inspiração múltiplas, divinais ou naturais, dogmáticas ou racionais que irão para lá do receio do castigo.

Será pecado às vezes visitar o Olimpo e valorizar o que por lá anda?

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