28 agosto 2024

Cronometrando as diferenças

Por estes dias irão começar os jogos paraolímpicos em Paris.

Começando por reconhecer e valorizar o empenho e o esforço daqueles que, apesar de uma desvantagem nascida ou posteriormente recebida, não baixam os braços e procuram ir mais longe e superar-se; continuando por louvar a justiça que esse(a)s bravo(a)s tenham um evento e um local onde possam mostrar ao mundo o resultado do seu ânimo e trabalho, fica-me a questão do cronómetro.

Será que a avaliação e a premiação se podem restringir ao cronómetro (ou pontos marcados), será que o ponto de partida de cada um é suficientemente equitativo, especialmente neste meio com tantas diferenças?

Se pensarmos, por exemplo, nos paraplégicos, parecer ser consensual reconhecer que a desvantagem é bastante uniforme e bem definida. Outros casos, nem tanto, mesmo sem entrar em situações claramente desonestas e aldrabadas. Em Sidney 2000, a seleção espanhola de basquetebol com deficiência mental ganhou a medalha de ouro, cilindrando os adversários porque, dos 12 jogadores, apenas 2 eram realmente deficientes; os outros 10 eram perfeitamente normais, até jogavam em competições “normais” e foi a própria federação quem criou a trafulhice para ter sucesso garantido - que verguenza ò hermanos !!

Diferentes pontos de partida, em que a sorte e a genética resultem em vantagens menos devidas ao mérito, existem, mesmo nas competições “normais”. Imane Khelif, a polémica boxeur argelina, pode ser perfeitamente uma mulher biológica, mas há ali hormonas ou outra coisa, nascidas ou acrescentadas, que lhe dão uma vantagem brutal, face às outras competidoras…

Sem dúvida que o sucesso tem uma parte de inspiração ou genética e uma enorme componente de transpiração. Sem suor, não se vai muito longe, mas, neste caso concreto dos paraolímpicos em particular, o juiz apenas cronómetro parece-me ser potencialmente cruel.

 

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