Poucos são os crimes que jamais prescrevem. Entende-se que ao fim de algum tempo, é desnecessário, impossível ou inconveniente instaurar um processo ou aplicar uma pena. Para um acontecimento com vários séculos já decorridos pareceria obvio não ser possível nem razoável tentar ajustar contas. Vamos reclamar à França os estragos das invasões napoleónicas, vem o Brasil pedir-nos contas pelo ouro que de lá saiu (embalar e despachar Mafra em contentores daria um excelente romance!)? Pode o mundo inteiro listar todos os saques e invasões sofridas e pedir compensação a quem entender? Obviamente que não faz sentido, até porque as entidades envolvidas muitas vezes já não existem ou pelo menos serão hoje muito diferentes do que eram na altura do “crime”?
De uns tempos para cá, no entanto, passou a estar na moda a reivindicação
das reparações históricas, como se para algo efetivamente isso servisse…
Dentro desse espírito, Portugal e Espanha decidiram
compensar os descendentes dos judeus expulsos no século XV da Península Ibérica
e nada mais do que com a nacionalidade plena. Sendo consensual que esse
episódio não constitui motivo de orgulho, também é verdade que estabelecer a
ligação de alguém hoje com um antepassado partido há cinco séculos e respetivo
prejuízo é tudo menos óbvio.
Este gesto simpático, e por muita simpatia que possamos ter
pela causa, peca infelizmente por excesso de generosidade e carência de rigor.
A vergonhosa naturalização relâmpago de alguém de perfil tão duvidoso como
Roman Abramovich prova que algo está mal no processo em particular. Quanto ao
princípio em geral…
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