10 dezembro 2021

O gato


Chega sempre muito calmamente, como quem não quer a coisa, sendo óbvio que alguma coisa quer. Instala-se sem um ruído, apenas lhe sai por vezes uma respiração ruidosa dos anos que lhe pesam. E fica à espera, de uns restos que haja, ou que se arranjem.

Havendo ou arranjando-se, lá come tranquilamente no seu canto, sem nada nos dizer. Passado o tempo de efetivamente comer ou apenas esperar em vão, reparte tranquilamente, sem um som, sem um movimento mais brusco do que outro. Dignamente vai à sua vida até regressar na próxima refeição ou na próxima manhã, em busca de novas.

E regressará e esperará, às vezes exposto, outras vezes escondido. Ao detetar algo a cair na tijela, aproxima-se desconfiado, com os olhos controlando quem a enche e o nariz sondando o que lá estará. Cumprida a distância de segurança, avançará então resolutamente para trinchar e trincar o que se arranjou.

E repartirá e regressará, sem nada nos dizer. É um gato!

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