O livro de António Barreto, “Salazar, Cunhal e Soares” é um interessante retrato dos três políticos que mais marcaram o século XX português. Não havendo muitas dúvidas sobre a pertinência da escolha, uma análise do perfil e da obra dos mesmos acaba por ser bastante deprimente sobre as grandezas e pequenezas (mais estas…) da nossa história recente e a herança que nos deixaram.
Para começar, a longevidade do Sr de Santa Comba. Vamos
apostar que, sem o desgaste da guerra colonial, o regime não tinha caído, pelo
menos naquela altura, pelo menos daquela forma tão rotunda? A esperteza oportunista
em que tudo é pequenino e as lideranças se querem autoritárias, avaras e patriarcais
não se institui em credo nominativo. Não há neossalazaristas que se vejam, mas
o povo revê-se e aceita com alguma facilidade um líder austero e ditador, que
faz e desfaz as regras como entende, controlando a distribuição de uns (poucos)
rebuçaditos aos meninos. Um severo ministro das finanças é uma instituição recorrente
e a respeitar.
Cunhal, paradoxal. Um partido dos que mais se proclamavam ao
serviço do povo e do país, tentou anular a democracia e colocou os interesses
de uma potencia estrangeira acima dos interesses nacionais como nenhum outro. A
famosa coerência que tantos louvaram tem outro nome: teimosia cega e
incapacidade/ desonestidade, típicas do maior cego. Certamente que se o
“processo” não tivesse abortado em 1975, Cunhal teria ficado para a história
numa galeria bastante diferente. Muito interessante o relato de Jorge Miranda
sobre os tempos conturbados “Da Revolução à Constituição - Memórias da
Assembleia Constituinte”.
Soares: a empatia e o mérito de ter lutado por um regime muito
mais próximo do desejado e acarinhado pela larga maioria do povo, que se queria
ver num modelo progressista, mas em meridiano mais ocidental. Este enorme
espaço da esquerda moderada foi liderado por Soares, aproveitando também o
trabalho de Salazar, que conseguiu colocar indeléveis dúvidas no povo sobre a natureza
dos pequenos-almoços comunistas e a real harmonia dos respetivos amanhãs. Para
lá deste Soares lutador pela democracia, há brigas a mais na sua vida e
realizações a menos, distinguindo-se mais na disputa pelo leme e muito menos na
qualidade da navegação, uma vez ao comando. Quanto ao seu lado lunar, não se
fica a olhar para Soares da mesma forma após ler “Contos Proibidos – Memórias
de um PS desconhecido” de Rui Mateus.
E vão três.
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