Dizem que Portugal é o limite ocidental da Europa (continental), no cabo da Roca até se recebe um certificado, e há quem defenda uma Europa do Atlântico aos Urais. Segundo os antigos, o meridiano de Alexandria dividiria o nosso continente da Ásia e também há quem ache que a Europa, mesmo Europa, só começa para lá dos Pirinéus.
Por estes dias, fiquei com a ideia de que a Hungria é o limite oriental de uma certa Europa. Em tempos associada ao Reino do Leste (Oesterreich = Áustria), a Hungria foi o leste do leste. Vindos dos Urais, os húngaros aqui instalados foram durante algum tempo um tampão às investidas contra o ocidente (ainda hoje…?). Foi também terra de fronteira, não entre o cristão e o mouro, mas entre o cristão e o turco.
A monumentalidade de Budapeste transmite sensações diversas. Por um lado, parece uma subsidiária da imperial Viena, algo feito num dia ou numa noite, muito demasiado neo qualquer coisa e com pouca patine do tempo para os parâmetros europeus. Por outro lado, há no ar algo de único que desafia e atrai… e aquele idioma...
Em geral, os húngaros não parecem imediatamente simpáticos nem acolhedores. Inolvidável a zanga e a agressividade gestual de um funcionário a quem interrompemos o saborear de umas batatas fritas para comprar um bilhete de entrada num monumento.
Na estação de comboios de Budapeste há comboios catitas a saírem para Viena e Munique e também decrépitos para Belgrado. Há o metro “Millenium”, o primeiro construído na Europa continental, ainda no século XIX, e onde descendo um simples lanço de escadas a partir do passeio, já se está no caís; há os novos modernos e janotas e os do tempo soviéticos, que ameaçam qualquer falange que se ouse interpor entre as portas a fechar.
Entre a Áustria e a Hungria, historicamente ligadas, passou a cortina de ferro. Também foi aqui que abriu a primeira brecha da mesma em agosto de 1989. Também foi na Hungria, em 1956, que ocorreu um dos primeiros desafios públicos à dominação soviética e o sair para a rua e morrer, exigindo liberdade. Albert Camus fez uma vibrante e sentida homenagem a esses heróis, que pode ser vista integralmente aqui e cito uma passagem.
“Não sou daqueles que pensam poder haver um conformar, mesmo resignado, mesmo provisório com um regime de terror que tem tanto direito de se chamar socialista como os verdugos da inquisição tinham em se chamarem cristãos.” (politicamente incorreto e ignorado pelos seus companheiros de estrada, que em 1957 ainda acreditavam em amanhãs cantantes).
Há uma certa Europa que termina aqui na Hungria e há qualquer coisa de mágico no estar num limite e numa encruzilhada.
Por estes dias, fiquei com a ideia de que a Hungria é o limite oriental de uma certa Europa. Em tempos associada ao Reino do Leste (Oesterreich = Áustria), a Hungria foi o leste do leste. Vindos dos Urais, os húngaros aqui instalados foram durante algum tempo um tampão às investidas contra o ocidente (ainda hoje…?). Foi também terra de fronteira, não entre o cristão e o mouro, mas entre o cristão e o turco.
A monumentalidade de Budapeste transmite sensações diversas. Por um lado, parece uma subsidiária da imperial Viena, algo feito num dia ou numa noite, muito demasiado neo qualquer coisa e com pouca patine do tempo para os parâmetros europeus. Por outro lado, há no ar algo de único que desafia e atrai… e aquele idioma...
Em geral, os húngaros não parecem imediatamente simpáticos nem acolhedores. Inolvidável a zanga e a agressividade gestual de um funcionário a quem interrompemos o saborear de umas batatas fritas para comprar um bilhete de entrada num monumento.
Na estação de comboios de Budapeste há comboios catitas a saírem para Viena e Munique e também decrépitos para Belgrado. Há o metro “Millenium”, o primeiro construído na Europa continental, ainda no século XIX, e onde descendo um simples lanço de escadas a partir do passeio, já se está no caís; há os novos modernos e janotas e os do tempo soviéticos, que ameaçam qualquer falange que se ouse interpor entre as portas a fechar.
Entre a Áustria e a Hungria, historicamente ligadas, passou a cortina de ferro. Também foi aqui que abriu a primeira brecha da mesma em agosto de 1989. Também foi na Hungria, em 1956, que ocorreu um dos primeiros desafios públicos à dominação soviética e o sair para a rua e morrer, exigindo liberdade. Albert Camus fez uma vibrante e sentida homenagem a esses heróis, que pode ser vista integralmente aqui e cito uma passagem.
“Não sou daqueles que pensam poder haver um conformar, mesmo resignado, mesmo provisório com um regime de terror que tem tanto direito de se chamar socialista como os verdugos da inquisição tinham em se chamarem cristãos.” (politicamente incorreto e ignorado pelos seus companheiros de estrada, que em 1957 ainda acreditavam em amanhãs cantantes).
Há uma certa Europa que termina aqui na Hungria e há qualquer coisa de mágico no estar num limite e numa encruzilhada.
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