Quando hoje falamos em “maniqueísmo”, como uma visão redutora e simplicista, não sabemos (eu, pelo menos são sabia) a origem da palavra, de Mani, um Parta que viveu no século III, ali pela Mesopotâmia, na altura sob influência persa, a quem os chineses chamaram “o Buda da luz” e os egípcios “o apóstolo de Jesus”.
O seu “maniqueísmo” era entre as luzes e as trevas, mas, mais do que forçar uma opção, ao que a palavra atualmente se associa, ele defendia uma universalidade da espiritualidade, tolerante e humanista, e uma laicidade do poder temporal, a todos os títulos muito moderna. Acabou perseguido, odiado e condenado, naturalmente…
- Se dizes o mesmo que o Messias ou Buda, porque procuras construir uma nova religião?
- Àquele que nasceu no Ocidente, a sua esperança nunca floriu no Oriente, daquele que nasceu no Oriente, a sua voz nunca atingiu o Ocidente. É necessário que cada verdade carregue os trajes o a pronúncia dos que a receberam?
- Mestre, admito que certas crenças merecem ser respeitadas. Mas os idolatras, os adoradores do Sol?
- Acreditas que um rei terá inveja se alguém beijar a orla da sua capa? O Sol não é mais do que uma lantejoula da capa do Altíssimo, mas é através dessa lantejoula cintilante que os homens podem melhor contemplar a Sua Luz.
“Os homens acreditam adorar a divindade, quando apenas conheceram as suas representações, representações em madeira, em ouro, em alabastro, em pinturas, em palavras, em ideias”.
-E aqueles que não reconhecem nenhum Deus?
- Aquele que recusa ver Deus nas imagens que se lhes apresentam, estará por vezes, mais próximo do que qualquer outro da verdadeira imagem de Deus.
Excerto recolhido do romance sobre a vida de Mani – Les Jardins de Lumière – de Amin Maalouf.
Sem comentários:
Enviar um comentário