“[…] a nossa capacidade de integração dos imigrantes na comunidade política nacional. Devemos manter as portas abertas da nossa comunidade com moderação e dentro das regras legais que regulam a aquisição da nacionalidade, e portanto, dos direitos políticos próprios da cidadania. Também devemos exigir uma demonstração real da vontade de integração desse imigrantes na nossa comunidade nacional. A contrapartida da nossa abertura é a rejeição firme dos isolacionismos religiosos e culturais. Não podemos dar direitos políticos a minorias que recusam os nossos valores e não acatam as nossas leis. Queremos receber dignamente, isso sim, os cidadãos livres que escolheram partilhar o nosso destino coletivo e respeitar a nossa ordem jurídica”.
O texto acima é capaz de provocar alguma urticária em alguns
setores políticos, culturais e sociais atuais e até ser linearmente carimbado
como digno de uma extrema-direita xenófoba e racista. Ora bem, o texto não é de
hoje, é de 2002 e foi proferido pelo Presidente da República Portuguesa da altura,
Jorge Sampaio, que certamente não ficou na história como um inspirador de André
Ventura.
A forma como o discurso não foi polémico na altura e hoje
faria rasgar vestes, é sinónimo de que estamos a andar para trás e a cair em simplificações
e radicalizações que não são sinónimo de bom-senso nem de inteligência.
Está subjacente que o designado multiculturalismo tem
limites. Um país, uma sociedade, não é uma macedónia de legumes onde tudo se
pode acrescentar livremente. Há coisas que não combinam. Por exemplo, e para
não fazer muito complicado, o estatuto da mulher nalgumas sociedades não é
compatível com os seus direitos constitucionais em Portugal. O eventual problema
com quem chega não é a cor da pele, é o respeito pelos códigos sociais (para lá
dos jurídicos, obviamente) que fazem a nossa identidade e o quadro em que queremos
e decidimos viver.
Que hoje em dia, se possa ser insultado por “gente de elite”
ao expressar o mesmo ponto de vista de Jorge Sampaio de 2002, é altamente
preocupante para o estado da nação e da sua evolução.