05 novembro 2025

O que segura Ana Paula Martins?


Pessoas são em muitas circunstâncias a variável fundamental que faz a eficácia e o sucesso das organizações. Especialmente na saúde a dimensão humana é, e em muito, o que faz a diferença, entre o resultado de profissionais competentes, dedicados e humanos e os outros…

Certamente que não é fácil organizar um sistema público de saúde pela sua dimensão e natureza, mas da base ao topo, do operacional à gestão de topo, a chave está nas pessoas, sua atitude e competências… e se fossemos decapitar estruturas por cada erro cometido, não teríamos substituições todas as semanas, mas quase…

Vem tudo isto a propósito da atual ministra da saúde, Ana Paula Martins. Sabemos que os problemas do SNS não se resolvem num mês ou dois e sabemos também que não será mudando de ministro todos os meses que teremos solução, mas… o facto é que do que se vê das suas ações é mudar pessoas, ainda agora mais uma no INEM, que até muda de nome para ANEM.

Não se esperariam milagres da ação da ministra, mas, no mínimo, humildade e alguma solidariedade institucional para com as estruturas de que é responsável. Do que se vê é que, aparentemente, os problemas nunca são da sua responsabilidade direta. Já só falta dizer que a culpa é das pessoas que adoecem quando não devem e das grávidas que vão ao hospital quando não é oportuno. O seu discurso chega a tocar a sobranceria e arrogância, atitude inaceitável para quem é o máximo responsável por um serviço fundamental que o Estado deve prestar à população e que está a falhar demasiadas vezes.

Ana Paula Martins avança não entre os pingos da chuva, mas no meio de uma borrasca sem se molhar e sem se preocupar demasiado com o escrutínio do seu desempenho. Aparentemente terá um sólido guarda-chuva que a protege! Qual será o segredo dessa proteção? Não sei e aqui também não é local para avançar palpites.

04 novembro 2025

O terceiro trambolhão do projeto comunista


Certamente que existem boas pessoas e muito respeitáveis que acreditam na bondade do sistema comunista. Certamente que haverá outras que, mais do que ser “por”, serão basicamente “contra” o “sistema” estabelecido. Certo também que século e meio depois de Marx ter formulados os seus fundamentos e de diversas aplicações práticas em distintas latitudes, longitudes, meios e culturas, não há um único exemplo de sucesso em termos de prosperidade sustentada e de liberdade das populações. Não vale a pela aqui detalhar e especular relações de causa-efeito entre comunismo e totalitarismo e repressão… o facto é que nunca funcionou.

Portugal pós 25 de Abril foi um alvo para a implantação desse sistema e felizmente a tentativa fracassou. A primeiro escolho foi o resultado das eleições constituintes de 1976 onde, com 91% de participação, o PCP mais o seu satélite MDP/CDE ficaram nos 16%, abrindo caminho à primazia da legitimidade democrática face à chamada legitimidade revolucionária, obviamente não democrática. A vontade livremente expressa do povo apontou a um caminho diferente do que alguns “revolucionários” defendiam.

Em seguida veio o 25 de novembro onde os comunistas entenderam e registaram que aquela tentativa de golpe, falhada, tinha sido a última e que não havia condições para outras iniciativas de tentar “popularmente” deitar a mão ao poder, pela força.

O livro acima representado, muito objetivo e bem fundamentado acaba por evidenciar um terceiro fracasso do comunismo. De assinalar que o período analisado no livro é anterior à passagem do autor pelo ministério da agricultura onde teve intervenção decisiva no encerrar do processo.

Muito interessante no livro é o detalhe das táticas de tomada de poder dos comunistas nesses tempos de transição. Depois, apesar da aparente dicotomia entre malditos latifundiários e desgraçados camponeses, é a importância que largas franjas do sector agrícola nacional, mesmo dos pequenos, teve na contestação às expropriações e coletivização em curso.

Finalmente há a falência do sistema, que definha e vai colapsando à medida que os generosos e indiscriminados apoios públicos desaparecem. Passa a ser necessário produzir mesmo o suficiente para pagar o fim do mês, dificuldade acrescida quando há “trabalhadores” impostos porque o sindicato decidiu. É o terceiro marco da falência do comunismo, o económico. Sobre o resultado possível caso o país não tivesse encontrado energia e determinação para se libertar desse destino, temos o exemplo soviético do Holomodor e da grande fome. Ver aqui

Para acabar e baralhar as conclusões, creio que o único exemplo de coletivização bem-sucedida são … os Kibutizim israelitas.. mas, ok, são gente diferente e, ainda por cima, pouco apreciada pelos atuais defensores dessas teorias.

02 novembro 2025

Temos guerra ?


Ali pelas dunas e beira-mar entre a Apúlia e A Ver-o-mar não faltam sinais destes, que algo me frustram, ao ver os caminhantes a disfrutar de belas vistas e eu resignado a pedalar pelo empedrado da estrada.

Certo que estes passadiços são estreitos, é efetivamente impossível serem partilhados entre caminhantes e "pedalantes" e, em geral, esse convívio nem sempre é pacifico, mesmo quando a largura é maior. Pela minha parte nessas situações a interpelação é mais “com licença”, seguida de “obrigado” do que cheguem para lá e deixem-me passar que vou a abrir. Talvez estes últimos se queiram vingar das tangentes ou dos “ganchos” que os automóveis lhes fazem na estrada, mostrando que naquela "selva" são eles os alfa ….

Seja por lazer, exercício ou para casa-trabalho a bicicleta é uma excelente opção em muitos contextos e agora com a banalização das elétricas os horizontes alargam. Não sei se falta regulamentação ou apenas informação sobre a mesma, mas que estes convívios podiam ser melhorados e mais civilizados, podiam. E, às vezes, nem são necessárias muitas leis e respetiva polícia quando o bom-senso e o respeito tomam o lugar devido.

01 novembro 2025

PS inseguro, positivo para Seguro


Assim como as criancinhas que são obrigadas a comer a sopa toda antes de poderem sair da mesa, a cúpula do PS também se viu obrigada a engolir a candidatura de AJ Seguro antes de poder avançar com a sua vida. Há algumas caretas e JL Carneiro até decretou tolerância de voto para quem se sentir especialmente agoniado com a ementa.

Não penso, no entanto, que tais hesitações no palácio do Rato sejam uma desvantagem para o candidato presidencial. No histórico PS haverá muita gente disponível para votar Seguro e que teria alguma rejeição se o visse apoiado entusiasta e convictamente por Augusto Santos Silva e outros mais dessa cepa. Ver essa fação a fazer caretas é fator positivo e credibilizador.

As autárquicas de Lisboa em que 2 + 2 deram 3 em vez de 5 ou sequer 4, provaram que a “Frente de esquerda” juntando PS e extrema-esquerda pré-eleitoralmente não tem coerência nem recolhe entusiasmos numa grande franja do eleitorado. Não é aí que o PS pode ir buscar "a força". Frentismo é uma especialidade dos comunistas, mas mais na base de domesticar e anular “aliados” do que alargar a base popular de apoio.

Em resumo, a candidatura de Seguro e o resultado que daí virá poderá provocar uma redefinição de forças e proporcionar uma regeneração do partido, já que internamente a partir da cúpula não parece viável. A democracia e o regime democrático agradeceriam. A ver vamos…

Atualizado a 5/11 com inclusão de recorte da publicação no Público.