30 agosto 2025

Ser comunista (VI)

 6)       O nosso PCP

Durante o Estado Novo, o PCP foi uma das forças mais bem organizadas e ativa na oposição ao regime, embora seja pena que muitos dos arquivos da Pide relativos a esse tempo tenham desaparecido. Há quem diga que embarcaram para Moscovo…

Nessa época, qualquer opositor era etiquetado com o anátema de “comunista”, uma certa generalização, da mesma forma como em 1975 um não comunista era marcado como “fascista”.

Houve coragem de quem ousou ser opositor e isso é de reconhecer. No entanto, não foi o PCP quem fez a revolução de Abril e a sua ação posterior foi pouco democrática. Não é aqui local para concretizar todas as formas como os comunistas se tentaram apropriar do regime, mas o condicionarem os partidos políticos legitimados democraticamente, incluindo o cerco da Assembleia Constituinte, e o tentar prolongar o poder do MFA e do “Conselho da Revolução”, são bons e simples exemplos.

A chamada legitimidade revolucionária pode ser necessária e eficaz no dia da revolução, quando um vazio criado tem de ser preenchido por alguém e não há tempo nem condições para constituir e dar poder a novos órgãos com outra legitimidade, mas a dita, revolucionária, esvaziar-se-á em seguida, de dia para dia, e tentar mantê-la permanentemente chama-se apropriação.

Não faltam por esse mundo fora países onde a legitimidade revolucionária de quem combateu o colonizador continua a validar a sua presença no poder por décadas e gerações. Por norma não são casos de sucesso no que diz respeito à qualidade de vida dos seus cidadãos.

Felizmente Portugal teve a maturidade suficiente para deslegitimar esta “legitimidade revolucionária” com muito pouco drama e sangue e, apesar de todas as deficiências atuais do sistema e dos partidos, estamos muito melhor do que estaríamos se tivéssemos ficado exclusivamente nas mãos dos marxistas puros e duros.

Tudo isto para concluir que ser comunista em Portugal pode ser invocar os pergaminhos das lutas passadas contra a ditadura, mas a sua ação em 1975 preparava outra – “Olhe que sim, olhe que sim!”. Não, não é um partido defensor da liberdade.

Deixando o passado, hoje o PCP é um partido que não fez a prova de fogo de estar no poder democraticamente e não sabemos bem como se comportaria se disso tivesse oportunidade. Aplicaria a cartilha original de Marx, a prática de Estaline ou o sistema de Putin?

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