Ali para os limites da Andaluzia, existe uma dúzia de topónimos que incluem na sua designação “de la frontera”. Trata-se naturalmente da antiga fronteira entre o cristão e o mouro.
É uma linha que foi avançando para Sul acompanhando a reconquista,
deslocando-se do vale do Douro, para o Tejo e depois Guadiana e acabando
finalmente no Mediterrâneo… Penso que uma boa parte destas terras “de la
frontera” estão associadas ao longo período de 2 séculos entre a tomada de
Córdova, Sevilha (e o nosso Algarve) a meados do século XIII e a conquista de
Granada, já nos finais do século XV.
Hoje, na península ibérica ficamos com esta “frontera”
apenas no diretório do código postal, mas não é assim por todos os lados. Um
dos locais onde uma fronteira destas está bem visível é em Chipre, onde ao
longo de toda a ilha, de costa a costa, existe uma “zona tampão” fechada, se
bem que atualmente mais fácil de transpor do que foi durante décadas. Mesmo a
capital Nicósia está dividida, apesar de hoje ser possível atravessar
facilmente a pé, mostrando apenas o passaporte (atenção a não comprar e trazer
produtos de contrafação do Norte para o Sul).
No extremo leste da linha, zona turca, está uma das
principais cidades da ilha, Famagusta, e logo ali ao lado o bairro/praia de
Varosha, no passado um dos mais famosos e distintos destinos turísticos do
mediterrâneo oriental. Com a entrada das tropas turcas em 1974, tudo foi
abandonado precipitadamente, transformando o local numa zona deserta e fantasma
durante décadas. Um verdadeiro monumento às novas fronteiras criadas neste
mundo.
Mais recentemente as autoridades cipriotas turcas decidiram
aproveitar o potencial turístico da cidade-fantasma, apesar de um certo vazio e
polémica quanto à propriedade e direitos sobre os imóveis.
Bem asfaltadas as ruas principais, disponibilizadas para
aluguer trotinetas elétricas e outros meios de transporte, os “turistas”
singram pelo bairro, sorrindo e enquadrando as indispensáveis “selfies”, numa
mistura muito exótica de prédios, hotéis e equipamentos em ruínas, instalações
militares não fotografáveis e tranquilos veraneantes disfrutando das areias e
águas que no passado fizeram a fama de Varosha. Coisas da frontera.