05 agosto 2025

De la frontera


Ali para os limites da Andaluzia, existe uma dúzia de topónimos que incluem na sua designação “de la frontera”. Trata-se naturalmente da antiga fronteira entre o cristão e o mouro.

É uma linha que foi avançando para Sul acompanhando a reconquista, deslocando-se do vale do Douro, para o Tejo e depois Guadiana e acabando finalmente no Mediterrâneo… Penso que uma boa parte destas terras “de la frontera” estão associadas ao longo período de 2 séculos entre a tomada de Córdova, Sevilha (e o nosso Algarve) a meados do século XIII e a conquista de Granada, já nos finais do século XV.

Hoje, na península ibérica ficamos com esta “frontera” apenas no diretório do código postal, mas não é assim por todos os lados. Um dos locais onde uma fronteira destas está bem visível é em Chipre, onde ao longo de toda a ilha, de costa a costa, existe uma “zona tampão” fechada, se bem que atualmente mais fácil de transpor do que foi durante décadas. Mesmo a capital Nicósia está dividida, apesar de hoje ser possível atravessar facilmente a pé, mostrando apenas o passaporte (atenção a não comprar e trazer produtos de contrafação do Norte para o Sul).

No extremo leste da linha, zona turca, está uma das principais cidades da ilha, Famagusta, e logo ali ao lado o bairro/praia de Varosha, no passado um dos mais famosos e distintos destinos turísticos do mediterrâneo oriental. Com a entrada das tropas turcas em 1974, tudo foi abandonado precipitadamente, transformando o local numa zona deserta e fantasma durante décadas. Um verdadeiro monumento às novas fronteiras criadas neste mundo.

Mais recentemente as autoridades cipriotas turcas decidiram aproveitar o potencial turístico da cidade-fantasma, apesar de um certo vazio e polémica quanto à propriedade e direitos sobre os imóveis.

Bem asfaltadas as ruas principais, disponibilizadas para aluguer trotinetas elétricas e outros meios de transporte, os “turistas” singram pelo bairro, sorrindo e enquadrando as indispensáveis “selfies”, numa mistura muito exótica de prédios, hotéis e equipamentos em ruínas, instalações militares não fotografáveis e tranquilos veraneantes disfrutando das areias e águas que no passado fizeram a fama de Varosha. Coisas da frontera.

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