É sempre interessante ver os dois lados, embora, com todo o respeito pelo Amin Maalouf e pelos seus excelentes escritos, do outro lado dos cruzados não estavam árabes, mas sim uma multitude de povos do Médio Oriente e não só. Saladino, o grande herói dos “árabes” que reconquistou Jerusalém aos “francos”, era de origem … curda. Quem diria. Uma etnia hoje não muito acarinhada por quem lhe constrói estátuas e venera como grande herói do Islão.
Árabe era, sem dúvida, o 2º califa, Omar, que conquistara a
cidade aos bizantinos em 637, 15 anos apenas após a Hégira e a fundação oficial
do Islão.
Hoje em dia associa-se cruzadas a abusos, barbaridades e
violentas campanhas de evangelização, mas não é isso que me ficou. A não
consolidação da presença latina na zona é capaz de ser precisamente resultado de
o seu programa ser muito militar e pouco evangelizador/cultural. As cruzadas
procuraram principalmente controlar e aceder à terra santa, nomeadamente Jerusalém.
Acessoriamente marcar o poder de alguns papas e dar espaço de conquista a
alguns senhores feudais aventureiros, posteriormente mesmo a reis, num caldo de
misticismo medieval.
Não deixa de ser algo curioso que na mesma época a reconquista
da península ibérica, “arabizada” a partir de 711, tenha sido consolidada a
meados do século XIII, enquanto no outro extremo do mediterrâneo tudo acabou no
final desse século com a conquista final de Acre pelos mamelucos (já agora, de
árabes tinham pouco). Porque é que dois processos com tanto em comum no contexto
e no calendário tiveram desfechos tão diferentes?
Falar atualmente em novas cruzadas, a propósito das intermináveis
crises no Médio Oriente, é uma expressão sonante, mas oca de significado. Ninguém
pega hoje na cruz (ou na metralhadora) para remissão de pecados e garantir acesso
ao Paraíso…
Refletir sobre paralelismos e divergências entre processos
históricos com o impacto que estes tiveram é um desafio aliciante. Por isso,
hoje ficamos sem conclusões.
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