A polémica com o Mundial do Qatar e o (não) respeito dos
direitos humanos é uma boa oportunidade para refletir sobre a respetiva
universalidade. No rescaldo da II Guerra Mundial, com a vitória das democracias
sobre os totalitarismos, a recém-criada Organização da Nações Unidas proclamava
uma Declaração Universal dos Direitos Humanas, que pretendia ser uma referência
e um guia para uma nova era, de democracia e de liberdade.
Nesse baralho havia já algumas cartas atravessadas. Entre os
vencedores não estavam apenas democracias. A União Soviética e os seus
satélites abster-se-iam na votação da referida carta. Dentro da ONU sempre houve
membros que formalmente apoiando, ou não, na prática não praticavam. Para lá do
bloco de Leste, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco são exemplos.
Prevaleceu o pragmatismo de ser preferível integrar membros
não perfeitos e assim de alguma forma os condicionar do que os deixar pairando
como párias. É também verdade que, só como exemplo, se para os combustíveis
fosseis restringíssemos o seu aprovisionamento aos países respeitadores…
sobrariam muito poucos. De todas as formas, sempre existiu o reconhecimento de
que por princípio havia direitos humanos universais.
Recentemente, com uma certa moda de valorizar diferenças
culturais e minorias, associada ao crescimento de regimes autoritários, vemos
alguma crítica à suposta colonização cultural ocidental e apelos à necessidade
de respeitar especificidades e diferenças…
Ao menos uma coisa seria relevante: questionar livremente os cidadãos desses países sobre se se acham no direito a serem respeitados. Não será tudo, mas um bom princípio, sendo que a pressão migratória para a Europa é já uma forma de votar… com os pés.
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