Tempo hoje:
Em outubro de 2020, num bonito e cerimonioso cenário, na
Sorbonne, entre as figuras de Vitor Hugo e de Louis Pasteur, repousa a urna e é
homenageado por toda a França o professor Samuel Paty, assinado por um islamista
radical, e cujo crime foi ter mostrado numa aula as famosas caricaturas de
Maomé, do Charlie Hebdo, no âmbito de uma discussão sobre a liberdade de expressão.
Evocadas generosamente as três palavras: liberdade, igualdade e fraternidade.
Tempo antes:
Quantos “Maires”, galhardamente envergando a faixa tricolor,
agora inquestionavelmente solidários com o luto, proclamando e repetindo as
três palavras mágicas, num tempo antes, não fecharam os olhos e até ajudaram a
construção de madraças suspeitas, com financiamentos de origem suspeita, com formações
suspeitas, desde que isso os ajudasse a preservar o poder? Democracia a quanto
obrigas?
Quantos intelectuais e outros que tais, que aplaudiram o
filme de Jean-Luc Godard, o preservativo no nariz de João Paulo II, todas as provocações
de bom e mau gosto, do “é proibido proibir”, estão calados, amedrontados ou intelectualmente
acorrentados e porquê?
Tempo depois:
Diz o Presidente de lá que a França não renunciará às caricaturas religiosas. Do ponto de vista do princípio é coerente. Na prática, um vendaval se levanta, até maior do que a decapitação original provocara. Apetece questionar até onde irá este vendaval. Até as caricaturas serem aceites, sem causarem mortos, ou até um pouco mais de autocensura e chamemos-lhe respeito virem definitivamente amedrontar e acorrentar a liberdade de expressão? Certamente haverá mais mortos… mas qual será o próximo tempo?
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