04 outubro 2020

Apropriação e integração


Fazem-me muita alergia as polémicas com as chamadas apropriações culturais. Alguém de uma cultura utilizar uma referência cultural de outra ser condenável como um roubo. Como se cada manifestação cultural e cada agente pudessem ser catalogados, associados inequivocamente a uma cultura específica e fosse possível construir muros à volta. Isto é inviável e a História da Humanidade e das Artes está cheia de belas realizações mestiças.

Ridicularizando o que o merece: se eu usar uma boina vasca, umas havaianas brasileiras, cozinhar uma pizza ou preparar um sushi… será aceitável? E aquele cabelo louro do Neymar?

Mas o fundo do problema não é esse, de todo. Se um branco se vestir de zulu e dançar conforme, será fortemente recriminado, se um negro se trajar a rigor e dançar o vira, é um bom exemplo de integração. Obviamente que há questões de gosto e mau gosto. Não aprecio de todo as varinas, tricanas e minhotas das marches populares, mas nunca me passou pela cabeça apelar à sua censura. As ditaduras do gosto acabam sempre em coisas feias.

Nos anos 80 a Brigada Vitor Jara pegou em temas tradicionais e interpretou-os com instrumentos populares, mas sem respeitar as suas regiões de origem. Um trabalho excelente, que muito contribuiu para lançar um grande interesse são pela música tradicional portuguesa. Mas … um cavaquinho ir colorir um tema da Beira Baixa ou um adufe vir marcar um do Minho? E as enormes influências africanas em muita boa música popular portuguesa? E o ukulele??


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