Esta semana faleceu Jen-Marie Le Pen, um dinossauro e um dos principais fundadores dos “novos” movimentos de extrema-direita, que tanto espaço conquistaram recentemente na Europa.
Ao ouvir a
truculência, grosseria e falta de respeito pelos princípios básicos do regime
democrático proferidos em devido tempo pelo senhor Le Pen, dá para entender
perfeitamente a campanha de “cerca sanitária” montada ao seu partido e a
estupefação quando em 1995 conquistam a câmara de Toulon, a primeira de uma
grande cidade, e quando em 2002 ele passou à segunda volta das eleições
presidenciais.
Ao ouvir agora a sua filha e sucessora, Marine le Pen, que
tem a segunda volta das presidenciais garantida e salvo reviravolta jurídica ou
outra vai mesmo acabar no Eliseu, há um mundo de diferença. O discurso não é de
todo do mesmo calibre do do seu pai, que originou a diabolização daquela franja
política e, sejamos objetivos, não coloca em causa os princípios básicos do
regime. Podemos dizer que o protecionismo não é solução e podermos questionar o
nível de abertura das fronteiras, mas, tanto quanto ouvimos, o RN joga o jogo
institucional em vigor. O sucesso e crescimento do movimento em França tem duas
razões principais. Uma é a perda de credibilidade da classe política
tradicional e outra são as transformações culturais e sociais que a imigração
está a provocar e para as quais enfiar a cabeça na areia não é solução.
Os resultados de uma eventual governação da extrema-direita
são outra discussão e interrogação. Para lá dos resultados concretos das suas
políticas, a questão é: a transformação do discurso do Le Pen pai para a Le Pen
filha corresponde a uma efetiva mudança de princípios e valores do movimento ou
foi apenas “marketing”?
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