12 janeiro 2025

O que esperar da extrema-direita?


Esta semana faleceu Jen-Marie Le Pen, um dinossauro e um dos principais fundadores dos “novos” movimentos de extrema-direita, que tanto espaço conquistaram recentemente na Europa.

 Ao ouvir a truculência, grosseria e falta de respeito pelos princípios básicos do regime democrático proferidos em devido tempo pelo senhor Le Pen, dá para entender perfeitamente a campanha de “cerca sanitária” montada ao seu partido e a estupefação quando em 1995 conquistam a câmara de Toulon, a primeira de uma grande cidade, e quando em 2002 ele passou à segunda volta das eleições presidenciais.

Ao ouvir agora a sua filha e sucessora, Marine le Pen, que tem a segunda volta das presidenciais garantida e salvo reviravolta jurídica ou outra vai mesmo acabar no Eliseu, há um mundo de diferença. O discurso não é de todo do mesmo calibre do do seu pai, que originou a diabolização daquela franja política e, sejamos objetivos, não coloca em causa os princípios básicos do regime. Podemos dizer que o protecionismo não é solução e podermos questionar o nível de abertura das fronteiras, mas, tanto quanto ouvimos, o RN joga o jogo institucional em vigor. O sucesso e crescimento do movimento em França tem duas razões principais. Uma é a perda de credibilidade da classe política tradicional e outra são as transformações culturais e sociais que a imigração está a provocar e para as quais enfiar a cabeça na areia não é solução.

Os resultados de uma eventual governação da extrema-direita são outra discussão e interrogação. Para lá dos resultados concretos das suas políticas, a questão é: a transformação do discurso do Le Pen pai para a Le Pen filha corresponde a uma efetiva mudança de princípios e valores do movimento ou foi apenas “marketing”?

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