Quando se fala no 24 de abril, para lá da estúpida, obtusa e infindável guerra colonial, é comum avançar com os nomes de Aljube, Peniche e Tarrafal. Hoje, apetece-me falar de bacalhau. Há uma certa visão de que a PIDE só incomodava comunistas, conceito bastante largo na altura, e, segundo essa perspetiva, aqueles para quem “a sua política era o trabalho”, não tinham problemas com o designado Estado Novo.
O bacalhau tocou muita gente pelo trabalho e muito duramente. Refiro-me a quem participou na chamada campanha do bacalhau, organizada e promovida pela “outra senhora”. A visita ao museu marítimo de Ílhavo é muito interessante e elucidativa sobre a vida terrível daqueles homens, que chegavam a trabalhar 20 horas por dia, em condições arrepiantes. Os lançados nas águas gélidas dos mares da Terra Nova não tinham sido condenados pelo regime a derreter numa frigideira do Tarrafal por delito de opinião, mas estavam condenados a um trabalho duríssimo e miserável para a sua sobrevivência e dos seus.
Um regime que estabelece como grande política alimentar o seu povo a partir de condições tão sub-humanas é pequeno, é mesquinho e sem visão. Esta condenação do país ao miserabilismo, por ignorância, incapacidade, falta de visão ou o que quer que seja como defeito não é o único problema do Estado Novo, nem a campanha do bacalhau o único exemplo, mas é uma ilustração muito concreta e bem documentada. Não fica mal falar dela neste mês de abril.
2 comentários:
Também vi o último Visita Guiada e não ficamos indiferentes àquele árduo trabalho. Vida
muito difícil!
Obrigado pelo comentário Júlio ... e não vi a Visita Guiada :)
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