22 abril 2020

Liturgias, forma e conteúdo


Pertencendo eu ainda a uma geração que viu o 25 de Abril, para mim não se trata de uma data apenas histórica e muito já escrevi aí para trás sobre o tema (ver etiqueta correspondente). Quando se fala nas respetivas comemorações, há duas coisas que se repetem, quase tão certo como chegarem as andorinhas na primavera.

A primeira é o carater enfadonho das comemorações oficiais, incapazes de passarem uma mensagem mobilizadora e de transmitir algo que seja ouvido com interesse, sobretudo por quem não viveu nem o antes nem o dia, sendo que isso devia ser o prioritário. São discursos dos próprios para os próprios e como se bastasse uma vez por ano ir ao frigorifico ou à estufa buscar um cravo vermelho e cumprir uma liturgia.

A segunda é a facilidade com que se arranja uma polémica, seja sobre a forma, seja sobre quem se convida ou quem participa. O subjacente à maioria das polémicas é existir um grupo que entende ser mais igual do que os outros, quando o 25 de Abril no espírito e na realidade do dia foi muitíssimo mais abrangente do que pretendem alguns agora reivindicar e capitalizar.

A situação excecional que o país e milhões de portugueses vivem exigia fazer diferente e não invocar um “direito adquirido” a celebrar, simplesmente como dantes. Vejam as imagens impressionantes de Roma nas celebrações pascais. Perderam impacto e significado pela adaptação ao tempo atual? Não, muito pelo contrário. Por aqui, fazemos umas contas mais ou menos científicas quanto a lotações e distâncias e tudo como sempre. Desculpem lá, mas podem deixar de ficar parados a olhar para trás e ter sensibilidade para entender e falar ao país presente? 25 de Abril deveria ser futuro e não passado.

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