30 outubro 2008

Nem tudo é mau...

Há três anos atrás, numa sessão de trabalho sobre a evolução da conjuntura económica, vi ser apresentada e demonstrada a existência, ao longo da história, de uma correlação muito directa entre um pico da cotação do petróleo e uma recessão subsequente. Um assistente comentava que era improvável ver o petróleo manter-se durante muito mais tempo naqueles 60-70 USD.

Aparentemente, erraram os dois. Nem houve crise imediata nem o petróleo baixou. A crise veio, mas só mais tarde após o petróleo ultrapassar os 140 USD.

Durante este tempo até pareceu existir uma admirável “imunidade” ao preço do petróleo. A amplitude do trambolhão actual, sendo que a parte invisível do iceberg ainda está por determinar, sugere que essa “resistência” foi somente um “aguentar”, que resultou num estouro mais violento.

Se é muito provável que, de uma forma ou de outra, os EUA acabariam por entrar em ruptura, dada a insustentabilidade do seu modelo, quem acelerou o processo e acendeu o rastilho foi a cotação do petróleo.

Muito se tem falado das dolorosas consequências desta crise na chamada “economia real”. Algumas, no entanto, são potencialmente positivas. Uma será clarificar que economia só há uma: a real. E forçosamente equilibrada entre a criação de riqueza associada a valor acrescentado “claro” e os serviços financeiros que a suportam. Vender várias vezes o mesmo tijolo com valorização crescente, pela expectativa do valor que esse tijolo algures gerará, não cria valor. Limita-se a trocar o tijolo de dono, em crescendo de preço e de expectativa, até se detectar que o “rei vai nu” e o último dono do tijolo ficar a arder.

Outro aspecto positivo, da travagem do consumo, é a “normalização” do preço do mesmo petróleo e de outros produtos básicos. Esta não agrada nada a alguns países produtores que têm os seus orçamentos populistas generosamente suportados pelas cotações dos hidrocarbonetos. Mais uma vez é a questão da falta de sustentabilidade que tem a mania de se manifestar sempre mais cedo do que se gostaria. Para lá do agrado de vermos descer o preço dos combustíveis e bens e serviços derivados, há algo mais importante. Os países do terceiro mundo sem petróleo nem gás estavam a caminho de uma situação verdadeiramente catastrófica. Este alívio da sua factura de importação energética só ajudará muito. Esperemos que aproveitem.

14 outubro 2008

É que não aprendem!

No momento em que o mundo “ocidental” assiste a um terramoto no seu sistema financeiro de com uma amplitude que tomou tudo e todos de surpresa, os “génios financeiros criativos” insistem em mostrar que não dormem nem desarmam!

Um parêntese para recordar que há já uma dezena de anos, mais coisa menos coisa, se sabe que os EUA andam a gastar mais do que criam, alimentando esse consumo através da valorização contínua do imobiliário e da emissão de obrigações do Estado, algo de insustentável. E, por definição, o insustentável não dura sempre, sendo também verdade que, como alguns dizem na ressaca, o que fez mal foi apenas o último copo. No penúltimo ainda estava tudo bem…

Depois deste estouro do crédito imobiliário imaginemos o que poderá ser o colapso do valor das suas obrigações e do dólar, isso sim, uma verdadeira bomba atómica na economia mundial. Oxalá não ocorra mas o que é lógico tem sempre uma probabilidade não negligenciável de ocorrer, não é?

Voltando ao tema do parágrafo inicial, que vi eu num dos telejornais recentes? Que o banco Best tinha proposto um “produto inovador”, um depósito a prazo em que se indicava um palpite para o candidato vencedor das eleições americanas. Acertando, a remuneração seria de 8%, falhando ficariam uns meros 2%.

Eu posso entender que a vitória do candidato “A” possa ter um impacto previsível positivo nas acções de um pacote de empresas "X" e a remuneração da minha aplicação tenha um resultado diferente, conforme ganhe “A” ou ganhe “B”. O que eu não consigo entender de forma alguma é que o resultado dependa de eu acertar com o palpite ou não. Parece-me mais próximo do totoloto do que de uma aplicação financeira. Em resumo, ao continuar com estas propostas “criativas” em que não se encontra nenhuma lógica entre o investimento e a remuneração, “eles” só estão a mostrar que não aprenderam nada!

09 outubro 2008

Brel

Não, não é costume andar por aqui a marcar efemérides e muito menos ir ao google roubar uma dúzia de fotos e fazer um "filme" amador.
Mas, nos 30 anos da partida de Jacques Brel, é uma forma humilde de nos mostrarmos pequenos face ao génio do artista.

PS em 10/10: Brel tinha fama de ser perfecionista e tratar o mais pequeno pormenor com grande atenção. Eu achei que o filme podia ser melhorado e cá vim deixar nova versão (não sei se será a última...).

07 outubro 2008

Coisas que falam "diferente"



Quando, por exemplo, posso escolher um carro de aluguer para utilizar por uns dias, tento experimentar um que não conheça, por muita satisfação que me possa ter dado o anterior.

Há uma coisa, no entanto, que se fosse a refazer acho que não mudaria nem trocaria e que é “engenharia”.

Uma das coisas fascinantes na engenharia é a sua “escrita”. Seja num plano de um conjunto de peças, num desenho de configuração de um sistema ou na arquitectura de um processo, a forma como um registo em papel descreve uma realidade actual ou, melhor, futura é desafiante.

Face a um boneco como o acima representado, um “engenheiro” atira-se para cima dele, para o descorticar e ver e comentar o que aquela coisa está para ali a dizer. Quando um plano se desdobra ou desenrola em cima de uma mesa os “engenheiros” são atraídos como “engenheiro por projecto” (para mais detalhes sobre o que é ser engenheiro, consultar “O princípio de Dilbert”) para entender e comentar e acrescentar algo àquilo que para ali se está a gerar e a tentar criar. Os “não engenheiros” fugirão assustados. Perdoai-lhes senhor porque não sabem o que perdem!

05 outubro 2008

Mandela não merecia isto



A História acabará por o confirmar, mas é certo que Nelson Mandela já lá tem o seu lugar assegurado como figura ímpar. O facto de, apesar ou precisamente devido ao seu passado, ter pacificamente desarmado uma “mina social”, que parecia não ter uma saída que não passasse por violentas convulsões é notável. A África do Sul parecia ser assim um país excepcional no continente e a servir de exemplo.

Após um Mbeki que, apesar de ter cara de boa pessoa, passou ao lado das expectativas, vamos ter o Zuma. Para lá da diferença de estilo que as fotos demonstram começa já num estatuto “supra justiça”. Depois de uma primeira tentativa de julgamento por violação, já submetido a grande pressão popular, agora foi pior. Sendo eleito líder do ANC e com fortes suspeitas de trapalhices por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro em negócio de armas, entenderam que um líder não pode ser julgado. Sendo tão popular como populista, gerou-se um “amplo” movimento social de pressão sobre os tribunais que lá inventou qualquer coisa para o isentar de ir ao banco dos réus esclarecer a verdade.

África do Sul fica em África e lá vem aquela sensação de que nesse continente não se consegue mesmo pôr democracia a rimar com desenvolvimento.

Neste momento Nelson Mandela estará provavelmente numa grande expectativa e com um aperto no peito. Uma coisa é certa: não merecia estar a assistir a isto.

03 outubro 2008

"Um dia chove, outro dia bate Sol"




Há aquela imagem dos habitantes de uma aldeia nos confins da África árida, martirizados pela falta de água, que quando vêm um esboço de uma nuvem no horizonte, desatam a cantar e a dançar “Vem chuva, vem chuva!!!”.

Infelizmente a euforia não dura muito, porque rapidamente a nuvem se dissipa e ficam de novo entregues à angústia e à inclemência da secura.

É disto que me lembro quando vejo o histórico da evolução do PSI 20, conforme imagem acima. A diferença é que aqui ninguém chega mesmo a “ver” um sinal de mudança que dispare o optimismo. É muito mais difuso. Até pode haver uma notícia má, mas como na véspera já “tinha sido descontada” e o facto de não ser pior do que o previsto, já se torna positivo e pode servir para animar. Enfim, o desespero raramente é racional.

O que se está assistir é a um fim de festa, tipo esquema D. Branca a cair. Com uma diferença, ilustrada por outra imagem.

Se alguém assassinar uma pessoa será severamente julgado e sofrerá a pena máxima sem piedade; se matar uma dúzia de pessoas pode ficar unicamente pelo internamento num hospital psiquiátrico; se matar uns milhares, com um pouco de sorte, pode ficar apenas com um exílio (isto é anterior ao TPI).

Quando a D. Branca cai, azar dos ingénuos que ficaram a arder. Quando são tantos e tantos bancos, o super liberal estado americano propõe-se digerir os cacos (evidentemente que não estão apenas em causa os “bancos”; as ondas de choque chegarão muito longe).

Neste momento não sei se o tal pacote de ajuda estatal será aprovado ou não, mas uma coisa sei: não se irá aprender. Depois do estouro da Enrons e afins que disciplinou as empresas cotadas e depois deste estouro que irá pôr alguma ordem nestes “financiamentos de risco”, alguma coisa será criada para dar a ilusão de crescimento que um balão a ser cheio de ar transmite. Estava mesmo, mesmo excelente no segundo antes de estourar. Os investidores criativos e os jogadores financeiros não acabarão.

PS: E era por aqui que diziam que eu devia aplicar as minhas poupanças para a reforma porque o Estado podia falir? Sim…. sim…