4) A hégira e a dimensão bélica
Maomé começa a pregar a “nova” religião e o Deus único em
Meca em 613. Como é natural estes
“novos” movimentos criam sempre alguma instabilidade social e em geral não são
bem aceites pelos poderes instituídos, que os vêm como um desafio ao seu
estatuto.
Durante algum tempo Maomé beneficia de proteção no xadrez
tribal de Meca, mas acaba por a perder e ficar exposto e em perigo. Assim em
622 ele e os seus companheiros fogem para a cidade de Medina. É a Hégira (fuga)
e marca o início do calendário muçulmano. O nosso 2025 não corresponde, no
entanto, a 1403 (2025-622) mas sim a 1447, dado o tempo islâmico ser contado em
ciclos lunares, que não dividem perfeitamente o ciclo solar. Todos os anos
ficam a faltar cerca de 11 dias. As festas religiosas islâmicas e as datas em
geral deslizam ao longo do ano solar.
Numa primeira fase, Maomé alia-se aos habitantes de Medina e
instala-se uma guerra aberta entre as duas cidades. Na guerra há mortos,
feridos, saques, prisoneiros, covardias, heroísmo e muitas coisas mais. O Corão
revelado durante esta fase de Medina tem uma pendente beligerante muito forte.
Vai servir de base e inspiração aos jihadistas de todos os tempos.
Os atritos com os judeus de Medina acumulam-se, dada a
relutância destes em aceitarem a conversão. Em 624 a tribo judaica de Medina,
os Banû Qurayza, é “julgada” e exterminada por se ter recusado a participar na
batalha da Trincheira. Na base da condenação, o facto de serem traidores
potenciais. Nada fizeram, mas supostamente estariam preparados para fazer.
Todos os homens são executados, mulheres e crianças escravizadas.
É no mesmo ano que a direção das preces é mudada de
Jerusalém para Meca.
Os capítulos do Corão, suras, revelados nesta fase de Medina
incluem uma dimensão bélica e de vingança contra os infiéis de Meca, com apelos
diretos à guerra e morte. Alguns exemplos:
Corão 2.191 – E matai-os, onde quer que os acheis, e
fazei-os sair de onde quer que vos façam sair. E a sedição pela idolatria é
pior do que o morticínio. E não os combateis nas imediações da Mesquita
Sagrada, até que eles vos combatam nela…
Corão 9.5 - Mas
quanto os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer
que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se
arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho.
A guerra corre de feição a Maomé e Meca é conquistada pelos
muçulmanos em 630. Em 632 Maomé morre controlando já a totalidade da península
arábica.
Todos estes fatos têm que ser analisados face ao local e ao
tempo onde ocorreram, mas é inquestionável que o apelo à morte dos infiéis
existe bem explícito no Corão.
Quando face a algumas barbaridades atuais ouço dizer que
“Isto não tem nada a ver com o Islão, o Islão é uma religião de paz e amor”,
fico a pensar. Ou quem o declara não sabe o que diz e devia abster-se de o
dizer assim em palco, ou sabe e é mais grave. Enganar infiéis não é “pecado”.
Os jihadistas ao ouvirem afirmações destas, por parte de quem sabe o que está a
dizer, podem interpretá-lo como uma validação indireta dos seus atos violentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário