Páginas

12 setembro 2025

Olhando o Islão (IV)


4) A hégira e a dimensão bélica

Maomé começa a pregar a “nova” religião e o Deus único em Meca em 613.  Como é natural estes “novos” movimentos criam sempre alguma instabilidade social e em geral não são bem aceites pelos poderes instituídos, que os vêm como um desafio ao seu estatuto.

Durante algum tempo Maomé beneficia de proteção no xadrez tribal de Meca, mas acaba por a perder e ficar exposto e em perigo. Assim em 622 ele e os seus companheiros fogem para a cidade de Medina. É a Hégira (fuga) e marca o início do calendário muçulmano. O nosso 2025 não corresponde, no entanto, a 1403 (2025-622) mas sim a 1447, dado o tempo islâmico ser contado em ciclos lunares, que não dividem perfeitamente o ciclo solar. Todos os anos ficam a faltar cerca de 11 dias. As festas religiosas islâmicas e as datas em geral deslizam ao longo do ano solar.

Numa primeira fase, Maomé alia-se aos habitantes de Medina e instala-se uma guerra aberta entre as duas cidades. Na guerra há mortos, feridos, saques, prisoneiros, covardias, heroísmo e muitas coisas mais. O Corão revelado durante esta fase de Medina tem uma pendente beligerante muito forte. Vai servir de base e inspiração aos jihadistas de todos os tempos.

Os atritos com os judeus de Medina acumulam-se, dada a relutância destes em aceitarem a conversão. Em 624 a tribo judaica de Medina, os Banû Qurayza, é “julgada” e exterminada por se ter recusado a participar na batalha da Trincheira. Na base da condenação, o facto de serem traidores potenciais. Nada fizeram, mas supostamente estariam preparados para fazer. Todos os homens são executados, mulheres e crianças escravizadas.

É no mesmo ano que a direção das preces é mudada de Jerusalém para Meca.

Os capítulos do Corão, suras, revelados nesta fase de Medina incluem uma dimensão bélica e de vingança contra os infiéis de Meca, com apelos diretos à guerra e morte. Alguns exemplos:

Corão 2.191 – E matai-os, onde quer que os acheis, e fazei-os sair de onde quer que vos façam sair. E a sedição pela idolatria é pior do que o morticínio. E não os combateis nas imediações da Mesquita Sagrada, até que eles vos combatam nela…

Corão 9.5 -   Mas quanto os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho.

A guerra corre de feição a Maomé e Meca é conquistada pelos muçulmanos em 630. Em 632 Maomé morre controlando já a totalidade da península arábica.

Todos estes fatos têm que ser analisados face ao local e ao tempo onde ocorreram, mas é inquestionável que o apelo à morte dos infiéis existe bem explícito no Corão.

Quando face a algumas barbaridades atuais ouço dizer que “Isto não tem nada a ver com o Islão, o Islão é uma religião de paz e amor”, fico a pensar. Ou quem o declara não sabe o que diz e devia abster-se de o dizer assim em palco, ou sabe e é mais grave. Enganar infiéis não é “pecado”. Os jihadistas ao ouvirem afirmações destas, por parte de quem sabe o que está a dizer, podem interpretá-lo como uma validação indireta dos seus atos violentos.

Começou aqui

Continua para aqui

Sem comentários:

Enviar um comentário