1) Introdução
Em setembro de 2006 fui de bagagens (e sem armas) instalar-me na Argélia, por motivos profissionais. Para lá de todas as diferenças culturais e sociais, havia algo marcante e preocupante. O histórico brutal de violência da década anterior, associada ao terrorismo islâmico. Mais tarde, compreendi ser um puzzle com mais peças.
Um risco diferente, menos conhecido, é sempre percepcionado com mais intensidade e inquietação. Naquela altura, os islamistas matavam uma a duas pessoas por mês, sobretudo membros de forças miliares ou de segurança, em zonas remotas, afastadas dos grandes centros urbanos. Na estrada morriam dez por dia, alguns ao nosso lado. Onde estaria o risco mais elevado, avaliando objetivamente?
Acreditando que as religiões têm na sua génese uma certa busca de harmonia e de bom viver e que a violências praticadas sob essas bandeiras eram degenerações e manipulações dos princípios fundamentais, como as nossas pouco cristãs cruzadas, quis crer que a violência islâmica seria também um desvio dos fundamentos daquela religião.
Decidi, portanto, estudar o Islão. Caso tivesse a infelicidade de ver uma faca encostada ao pescoço por ser um infiel, caso tivesse tempo e canal de comunicação, poderia procurar convencer o agressor de que ele não estava a seguir coerentemente os princípios da sua religião… Poderia não existir um simples e direto “Não matarás!”, mas certamente algo análogo haveria de encontrar.
Li inúmeros artigos, ensaios, livros de opinião e históricos e, naturalmente, o Corão. Aprendi muita coisa e para uma delas, fundamental, não deveríamos sequer precisar de muitos livros para a saber: “A realidade nem sempre coincide com o que a ignorância imagina”.
Por vezes, no desconhecimento, avançamos algumas hipóteses e especulações, conforme as nossas ideias pré-concebidas e simpatias e acabamos por nos convencer da alta probabilidade de na realidade ser assim, como imaginamos, mas…
Devo esclarecer que conheci nesses tempos dezenas, para não dizer centenas, de muçulmanos e que nenhum me incomodou, insultou e, muito menos, ameaçou ou agrediu. Ações de proselitismo também foram muito raras. Recordo muito boa gente, por quem tenho todo o respeito e estes textos não os pretendem atingir ou diminuir de nenhuma forma.
O que “causa um problema” e pretendo de certa forma esclarecer e denunciar são as mentiras e as manipulações, assim com as tentativas de condicionar a sociedade e restringir liberdades. Acredito que muitos muçulmanos estarão certamente de acordo comigo.
Sobre este título, irei publicando alguns factos que aprendi, não imediatamente de rajada. Fica feita a introdução.
Continua...
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