Formulou muito bem Orlando Ribeiro, que existem dois “portugais”, um Mediterrâneo e outro Atlântico. Para quem se interessa por entender o que é este país, o seu livro é obrigatório, mesmo.
Essa fronteira, que ouvimos na meteorologia como o sistema
Montejunto-Estrela, teve no verão quente de 1975 um posto fronteiriço em Rio
Maior, equipado com as famosas mocas, enfim… não faltam exemplos. Curiosamente
esta clivagem nunca pôs em causa a unidade identitária do país nem levantou sérias
veleidades separatistas.
O resultado destas últimas eleições é mais um exemplo quase
perfeito dessa divisão do país. A particularidade é que este recorte eleitoral
não é inédito na forma. No passado foi igual, com diferença apenas na cor. O
sul do Tejo era vermelho comunista e agora é extrema-direita (populista).
Se eu fosso sociólogo atirava-me de cabeça a tentar entender
como o Alentejo revolucionário abandonou os valores comunistas, para abraçar
este populismo grosseiro. Os extremos tocam-se? Sim, um pouco, mas não será
assim tão simples.
Durante anos o Alentejo foi para a esquerda uma espécie de
puro e último reduto da “revolução”, objeto de devoção quase religiosa. Quando
Henrique Raposo escreveu sobre a região, referindo as elevadas taxas de
suicídios, não houve livros queimados na praça pública, mas pouco menos,
tamanha foi a indignação da esquerda.
Enfim, não sei para mais e não quero entrar no terreno da
especulação pura, mas gostava muito de entender o que existe neste Portugal
mediterrâneo que um dia é comunista e no seguinte, dizem os ainda comunistas,
fascista. Um mistério…?
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