30 junho 2024

Quitte ou double


França é um país que gosta de ideias, mas também alinha facilmente atrás de líderes fortes, que se impõem mais pelo carisma, do que pelas mesmas. Mesmo sem recuar aos tempos de reis solares ou de imperadores autoritários que confiscaram regimes republicanos, todos com boa aceitação popular, tivemos muito recentemente um tal de “mon general” De Gaulle, que na ressaca da traumática participação francesa na II G Guerra, fundou um partido pessoal e um regime com um nível de poder concentrado no presidente de fazer inveja a muitos reis, mesmo reinantes.

Emmanuel Macron, noutra escala certamente, é também alguém que aparece, funda um partido e que toma o poder, muito mais assente na sua personalidade do que numa ideologia. Não está a correr bem, se bem que não é fácil imaginar quem ali podia fazer melhor. No top 3 das últimas presidenciais, nos alternativos, entre Le Pen e Mélenchon, que veja o diabo e não escolha.

Depois das últimas europeias e respetivo descalabro, Macron resolveu jogar o “quitte ou double”. Efetivamente se quisermos excluir xenófobos, putinistas, anti-semitas e irresponsáveis “iluminados”, só mesmo o partido presidente apresenta alguma razoabilidade e racionalidade. Vamos a ver o que a razão dirá este domingo,

27 junho 2024

SOS Automóvel


Nem sei bem em que canal passa, nem os dias exatos, mas quando o zapping por lá passa, obrigatoriamente para. Carros…

Para lá das mecânicas, dos detalhes e especificidades das reconstruções de veículos de outras eras, alguns de que nos recordamos de ainda ter visto na estrada, há algo mais. Há a relação dos mesmos com os seus donos. Um carro da família, mesmo que esteja há anos abandonado e degradado, é parte da família. Daí, tantas imagens emocionantes de proprietários e famílias quando reencontram o “seu” carro, tal como um ente querido que esteve longe em viagem e que, surpreendentemente, a casa retorna.

Um carro da casa, talvez mais antes do que agora, quando duravam mais tempo, não é apenas uma coisa que se move sobre rodas. É um repositório de experiências e de vivências. É um símbolo de um tempo e de uma fase das vidas. Tendo no passado os carros especificidades e personalidades mais marcadas e distintas do que hoje, mais intensa é essa memória.

Por estes lados, sem a projeção mediática nem o financiamento do “SOS”, fiz recuperar o carro especial que tinha sido do meu avô desde 1974. Um 124 “Special T”. E recordo-me dos sorrisos que no final provocou...        

Reportagem aqui

12 junho 2024

O tamanho do S Gonçalo


Entre os vales do Cávado e do Neiva, há um ponto culminante, próximo dos 500 m de altitude, com uma vista enorme e abrangente a partir de lá, sendo também visto de “todo o lado” com a sua a torre de observação e antenas.

A primeira vez que lá tentei chegar a pedalar, foi numa tarde de verão tão quente que fiz meia-volta a menos de metade, ali pelo monte do Castro. De uma segunda vez, mais recente e mais pela fresca, fui um pouco mais acima, mas a combinação do declive com a irregularidade do terreno é tal que torna a coisa um pouco difícil. Aliás, o percurso sinalizado será quando muito para subir a pé e para quem não receia torcer um tornozelo. Foi esta combinação e “incapacidade” que me deu a motivação (e a justificação!) para comprar a elétrica.

Tanto assim, que após uma primeira volta de ambientação, a segunda saída foi subir ao S. Gonçalo, com a coisa melhor estudada, pelos estradões e não por leitos de ribeira secos…  Aliás, com a assistência elétrica no mínimo, já é um bom treino ir por ali acima.

 Mais do que altitude e da vista lá no ponto final, o que fascina é a dimensão daquela área enorme, sem uma casita para amostra. Há estradões que sulcam o monte em todas as direções e a sensação de que dificilmente se passará por todos os cantos e recantos. Liberdade é um pouco isso, também, não? Haver sempre algo por descobrir.

E a uma distancia de uma dúzia de quilómetros da base.., ou umas dúzias de pedaladas.



04 junho 2024

Afinal havia outra…

Ao vermos a horrorosa imagem de Luis Camões na moeda comemorativa dos 500 anos, imaginamos que será uma “experiencia” única, sem antecedentes nem subsequentes, tão consensual parece ser o absurdo e o ridículo de tal representação.

Mas não, afinal… havia outra!

No átrio principal do Palácio de São Bento, no nosso mui nobre Parlamento português há uma escultura, do mesmo artista, largamente aparentada com a moeda. Presumo que tenha dado direito a um bom desconto na conceção da segunda “obra de arte”…!

Aqui podem ver uma tentativa de explicação da mesma, mas apenas para quem for mesmo muito intelegentio… 

 

02 junho 2024

Camões não merece


Comemorar 500 anos de alguém que definitivamente da lei da morte se libertou não é pouca coisa. Quando esse alguém é provavelmente o maior génio da história portuguesa e o expoente máximo da nossa arte e cultura, o desafio é grande.

Entende-se e aplaude-se que o Banco de Portugal se tenha lembrado de cunhar uma medalha comemorativa. De passagem, é de referir que, no geral, esta efeméride pouco interesse parece estar a despertar. Pode-se entender que quisessem ilustrar a mesma com uma imagem diferente da clássica, que se vê nos manuais escolares…

Agora, que tal imagem seja uma coisa disforme, que nem sequer um rosto humano é, horrível de ver, sem propósito ou significado decifráveis, a menos de eventualmente desvalorizar e ridicularizar o príncipe dos poetas, isso é coisa que não se entende de todo, nem se aceita. É absolutamente ultrajante e quem autorizou tamanha monstruosidade deveria ser confrontado com a sua irresponsabilidade. O domínio artístico é certamente subjetivo, mas há mínimos de decência e de respeito, especialmente neste contexto. Aparentemente Camões continua a não merecer o país que tão brilhantemente cantou, mas, sei lá, às tantas esta moeda ainda vai ganhar um prémio de design qualquer…