20 outubro 2022

Neo-histórias de criancinhas ao pequeno-almoço


No tempo da antiga senhora diabolizavam-se os comunistas, insinuando que eles até comeriam criancinhas ao pequeno-almoço. Seria mais eficaz e responsável invocar a realidade do Gulag em vez de absurdas ficções de bicho-papão. Na mesma altura, naturalmente, quem não alinhava com a “situação” era um perigoso comunista, potencial antropófago.

Depois da revolução de abril, todos os que não aderiam ao Processo Revolucionário em Curso foram carimbados como fascistas e reacionários e sem mais discussão. Recentemente esta catalogação evoluiu para neoliberal.

O descrédito dos partidos tradicionais e a popularidade das propostas radicais não começou hoje, mas cresce a cada eleição que passa, prenunciando uma degradação dos princípios que fizeram a prosperidade, justiça social e qualidade de vida neste nosso mundo.

Obviamente que simplesmente apregoar o risco do regresso do fascismo quando há crescimento da extrema-direita é absurdo, redutor e irresponsável. O fascismo é outra coisa e invocá-lo -lo como bicho papão, cuja repulsa seria suficiente para diabolizar e travar popularidades perigosas tem credibilidade idêntica à dos tais pequenos-almoços. Descredibiliza quem o anuncia e, sobretudo, evita um escrutínio sério das origens do problema, no qual esses anunciadores levianos têm muitas responsabilidade e contas a apresentar.


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