No tempo da antiga senhora diabolizavam-se os comunistas,
insinuando que eles até comeriam criancinhas ao pequeno-almoço. Seria mais
eficaz e responsável invocar a realidade do Gulag em vez de absurdas ficções de
bicho-papão. Na mesma altura, naturalmente, quem não alinhava com a “situação”
era um perigoso comunista, potencial antropófago.
Depois da revolução de abril, todos os que não aderiam ao
Processo Revolucionário em Curso foram carimbados como fascistas e reacionários
e sem mais discussão. Recentemente esta catalogação evoluiu para neoliberal.
O descrédito dos partidos tradicionais e a popularidade das
propostas radicais não começou hoje, mas cresce a cada eleição que passa,
prenunciando uma degradação dos princípios que fizeram a prosperidade, justiça
social e qualidade de vida neste nosso mundo.
Obviamente que simplesmente apregoar o risco do regresso do
fascismo quando há crescimento da extrema-direita é absurdo, redutor e
irresponsável. O fascismo é outra coisa e invocá-lo -lo como bicho papão, cuja
repulsa seria suficiente para diabolizar e travar popularidades perigosas tem credibilidade
idêntica à dos tais pequenos-almoços. Descredibiliza quem o anuncia e,
sobretudo, evita um escrutínio sério das origens do problema, no qual esses
anunciadores levianos têm muitas responsabilidade e contas a apresentar.
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