14 abril 2022

Não, obrigado!


Algures pela segunda metade da década de 70 eu tinha na minha capa escolar um autocolante tipo ovo estrelado do “Energia Nuclear, Não, Obrigado”. Era um tema ainda fresco, havia alguma contaminação entre a ideia do nuclear civil e militar, este último bastante ameaçador na época. O certo é que após a crise petrolífera provocada pelo boicote árabe de 1973, muitos países abraçaram sem hesitação esta alternativa, mais controlável, especialmente do ponto de vista do risco geopolítico.

Hoje, mais de 40 anos depois, tendo-se acrescentado ao contexto a necessidade da limitação das emissões de CO2 e estando algumas centrais nucleares a chegar à reforma, o que podemos dizer quanto ao nuclear sim ou não? Por um lado, continua a haver bastante instabilidade geopolítica na área de origem dos combustíveis fosseis. Além dos tradicionais, de há umas semanas para cá, foi acrescentada a Rússia. As renováveis cresceram muito, mas ainda estão longe de assegurar a integralidade das necessidades.

Do lado da segurança das centrais, tivemos Chernobyl e Fukujima e constatamos uma coisa. Não há forma certa de controlar a besta quando ela desembesta. Não há um modo operatório definido sobre por onde e como reagir com segurança em caso de acidente grave. E as consequências potenciais são brutais.

Não há também ainda forma consensual e segura de como gerir os resíduos radioativos do combustível usado ou do desmantelamento das centrais. Quarenta anos depois ainda se especula sobre se se enterra ou não, em que condições e a que profundidade. Considerando o tempo de vida de alguns resíduos, é assustador… e irresponsável o tema ainda estar verde. Ou então será porque não há mesmo solução adequada…

Diz-se que as novas centrais são muito mais seguras, mas também são muito, muito mais caras. Entretanto, equaciona-se prolongar a vida útil das antigas. Mas se estas são mesmo seguras, a ponto de poderem aguentar mais anos, porque se constrói agora de forma diferente?

Quanto ao risco de acidente, podemos dizer que Chernobyl foi coisa soviética, um contexto que aparentemente já não existe. Será? Fukujima, Japão, aconteceu num país muito organizado e disciplinado. Centrais em países como Egito ou Paquistão terão sempre uma gestão e operação rigorosas e irrepreensíveis?

E a guerra? Vimos recentemente imagens de Chernobyl e Zaporizhia em pleno teatro de guerra e arrepiamo-nos com o que poderia provocar um “tiro ao lado”. Todos os locais nucleares do mundo estão protegidos contra serem apanhados num cenário destes? Não. E se aqueles terroristas que não se ensaiam em provocar os maiores estragos possíveis decidirem atacar um reator… já sabemos que a besta, desembestando …

Pela lógica, racionalidade, preocupação com o ambiente e sustentabilidade do planeta e da humanidade: Nuclear, não obrigado. É irrazoável conviver com estas bestas apocalíticas, confinadas em frágeis jaulas. Há alternativa, mantendo os nossos atuais padrões de vida? Não.

Imagem de versão compactada, publicada no Público.  

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