Este excerto de um poema de John Donne deu o título a um dos mais famosos romances de Ernest Hemingway. Diz ele que quando os sinos dobram, é por nós todos.
Vermos uma grande potência, autocrática, rica em recursos
energéticos, que tanta falta fazem ao nosso conforto, invocar supostos perigos
e ameaças para arrasar um vizinho incómodo e…? Falamos de Rússia e Ucrânia em
2022? Sim, mas não só. Podíamos também estar a falar, por exemplo, de Arábia
Saudita e Iémen em 2015. Ucrânia é Europa e as dores próximas são sempre mais
intensas, mas no domínio dos princípios, e a vida e dignidade humanas devem ser
sempre questão de princípios, a diferença não é assim tão grande.
Felizmente, na desgraça, o heroísmo do povo ucraniano fez a
Europa sair da sua zona de conforto e assumir o risco de ter problemas com o aquecimento
central das casas, em nome do direito à liberdade e dignidade de quem se vê
obrigado a dormir fora de casa ou, pior, a fechar os olhos para sempre.
Que esta consciência de que na Ucrânia os sinos dobram
também por nós possa ser uma trágica mas oportuna mudança nas sensibilidades.
Como cantava Jacques Brel – “Todas as crianças são como a tua”. E mais sinos a
dobrar por aí não faltam!
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