Não sei bem se devia escrever e publicar isto, mas … apeteceu-me. Talvez até haja alguns leitores melhor conhecedores do contexto e que terão a gentileza de me completar ou corrigir. A ver como eu vejo…
A Efacec é um nome impossível de ignorar e de por ele algo
sentir uma boa parte do país que faz coisas, muito mais particularmente se for
engenheiro da FEUP (pelo menos em visita de estudo lá terá ido)
ou se aí tiver passado umas décadas da sua vida profissional. Eu, como muitos
outros, acumulo as duas condições.
Com raízes em duas pequenas empresas familiares do Porto, a
Efacec ganha o seu nome e dimensão quando a elas se associam a CUF, capitalista
industrial do regime que traz o EF de “Empresa fabril” e os belgas tecnológicos
que acrescentam o ACEC. Depois do divórcio entre os dois a empresa passou a ser
basicamente uma filial portuguesa dos belgas e, mesmo depois da sua partida, é
uma empresa com a base do valor acrescentado em terras lusas. A
internacionalização sempre foi problemática. Mesmo a pioneira fábrica de
transformadores construída na China não consolidou. No ADN estava e continuou
sempre a ser principalmente o parceiro local de grandes projetos e recorrendo a
complementaridades tecnológicas bem escolhidas. Nem todas as áreas seriam
assim, mas o “core” bastante.
Esta dificuldade de posicionamento e de diferenciação ao ir
“lá para fora” não foi resolvido pelos novos donos que foram chegando, novos
CEOs e respetivos séquitos. Pelo contrário…
A crise agrava-se e o descalabro começa quando os donos do
momento, o grupo Mello em meados de 2000, aproveitando ventos de popa
favoráveis, passam a ter maior preocupação quanto ao seu negócio com as ações
da Efacec do que com o negócio da Efacec com os respetivos clientes. A
publicidade nos aeroportos não era para os clientes da empresa, mas para os
clientes das ações dos donos da empresa. A carteira de encomenda cresce exponencialmente
e é construída precipitadamente uma nova fábrica nos USA, crónica de uma
desgraça anunciada. Como o lavrador “esperto” que faz o porquinho comer tudo e
mais alguma coisa, para aumentar o peso e vendê-lo ao quilo a bom preço na
feira… veio a crise de 2008 e a venda atrasou. Ao atrasar a negócio, a porcaria
que o porquinho tinha no estomago começou os seus nefastos efeitos.
No definhamento inevitável os donos do porquinho doente
venderam-no … a Isabel dos Santos. Talvez a especificidade política em Angola permitisse
a realização de alguns contratos simpáticos, mas… um, é difícil de imaginar o
futuro de uma empresa tecnológica refém de tais especificidades e dois, a
reviravolta política no país nem isso permitiu. Bem se podem felicitar os
intervenientes.
A rampa inclinada continuava montada e os Luanda Leaks
vieram demonstrar que afinal havia ali um problema com os novos donos. Quem
diria, que surpresa!!
Impunha-se a mudança de dono, o processo foi demasiado
lento, mas esperemos que nesta nova fase que se anuncia seja possível
concretizar uma mudança estratégica, assente numa liderança galvanizadora. A
empresa perdeu muito, o tempo dos negócios não é todo o tempo do mundo. Será
difícil voltar a ser o que era, é certo, mas vamos ser otimistas.
2 comentários:
Olá Sampaio.
Já que lanças o convite para te ‘completar ou corrigir’, aqui vai o meu contributo.
Ao recordares as ‘raízes’ da Efacec fiquei com a sensação de que recorreste à Wikipédia, onde figuram dados intencionalmente adulterados, os quais tenho tentado rectificar e que não tenho conseguido, quer por inação ou por desinteresse pelo tema, por parte da actual administração da Efacec.
Então é assim:
A Efa-Acec, em rigor a ‘Empresa Fabril de Máquinas Eléctricas, SARL’, nasceu da vontade de duas empresas; uma empresa do Porto – a ELECTROMODERNA Lda, e de uma empresa belga, os ACEC. Para acionista financeiro da empresa, foi inicialmente convidado um investidor do Porto. Malograda esta tentativa, o Engº António Ricca foi convidar o D. Manuel de Mello (dono da CUF), que aceitou participar com algumas reservas, tendo afirmado que não dominavam a tecnologia em causa, mas acreditavam na proposta. Para afastar qualquer “desconfiança” de EML e ACEC decorrente do “peso” da participação da CUF, este acionista propôs um protocolo particular pelo qual os maiores accionistas se comprometiam a sempre constituir um Conselho de Administração composto por três membros representantes da CUF, EML e ACEC; pela CUF assinava o protocolo o então presidente D. Manuel de Mello.
Conclusão; o papel da CUF foi de simples investidor num negócio que não dominavam – fabrico de motores eléctricos e tranformadores.
Obrigado pelo complemento Júlio
O meu objetivo (e a fonte não foi a Wikipedia 🙂) era referir que nos genes da empresa se cruzaram 3 componentes, independentemente do detalhe dos nomes originais e do histórico da evolução societária da empresa. Terias as empresas familiares do Porto, Ricca Gonçalves e Costa Reis, que faziam motores elétricos e transformadores, tens os capitalistas (apenas isto, como sublinhas) industriais do regime, os Mello e os tecnológicos belgas dos Acec. Esta associação virtuosa permitiu ter muito sucesso, mas fundamentalmente no mercado doméstico. Em vez de ir fazer motores e transformadores para “todo o mundo”, o caminho foi fazer mais coisas em Portugal.
De todas as formas, com todo o conhecimento e registo que tens desta história o teu contributo é muito bem-vindo!
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