Um destes estes dias passou pelas minhas mãos este livro,
coleção de discursos e palestras por ele realizadas. Uma boa parte tem lugar
nos anos seguintes ao fim da II Guerra Mundial e há um aspeto nessa ressaca da
barbaridade que me interrogou.
Camus questiona o mundo em que vive, nomeadamente a sua
desumanização. Não vou aqui transcrever o detalhe, mas há um sentimento de
perda de referências e de dúvidas sobre o caminho e os valores do novo mundo. À
partida, com a chegada da tão ansiada paz, depois de tantas atrocidades
militares, do holocausto e do drama da ocupação e da resistência, em que o
próprio se tinha envolvido ativamente, deveria ser uma altura mesmo de paz, de
reencontro com a serenidade e a normalidade, num mundo em que não se massacram pessoas
na mais absoluta banalização.
Na altura da guerra e da ocupação, havia o mal e havia a luta pela
paz e pela liberdade, o bem. Este era um objetivo duro, mas claro e simples.
Desaparecendo o mal, ficou o bem desorientado?
O bem só se consegue definir e estabilizar face a um mal? A
mensagem de um Deus sem o contraponto de um Diabo, tem dificuldade em se
afirmar e ser entendida, como a tese que sem a antítese não se aguenta? Não sei…
talvez que se Camus pudesse ouvir isto diria, este tipo não entendeu nada,
talvez… mas tentei!
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