30 maio 2019

Enquanto eram parafusos…


Tempos houve em que o antigo império do meio, começou a fazer parafusos. Eram baratos, o controlo de qualidade um desafio, mas quando os senhores que sabiam bem de parafusos lá se instalaram, as coisas ficaram melhor organizadas e evoluíram. Hoje é muito mais do que parafusos e já se dispensam senhores de fora para muitas competências.

Nenhum equipamento conectado é uma ilha, havendo cada vez mais coisas que se conectam e sendo cada vez mais fácil fazê-lo. Uma “coisa conectada”, seja um telemóvel, um automóvel, um frigorifico ou uma casa, tem uma ponte e uma porta de entrada para o mundo exterior. E aqui não tenho dúvidas… garantias de inviolabilidade não há. É apenas questão de esforço e habilidade.

Sempre, e hoje ainda mais, a informação é fundamental, a informação é poder. E aqui também não tenho dúvidas … poucos ou pouquíssimos resistirão à tentação de aspirar toda a informação a que tenham acesso, caso isso lhes traga alguma vantagem. Sabemos que cada passo nosso de cada dia é aspirado por quem saber o que somos, para depois vender essa informação a quem quiser comprar, servindo tanto para nos impingir bugigangas como propaganda política.

Na atual crise EUA – China, a separação entre a Google e a Huwaei é a crónica de um divórcio anunciado. Quem viaja à China, já sabe que Google, e outros, lá não existem por questões de segurança nacional. As diferentes ambições e projetos de sociedade tornam inevitáveis o estalar desta desconfiança, que, recorde-se, é recíproca.

Assim, está em curso a construção uma nova cortina de ferro, que não sendo física, não é menos significativa. Hoje o ecossistema da internet na China é já substancialmente diferente do ocidental. A continuar por este caminho, atingindo as bases de hw e sistemas operativos, o mundo dos sistemas de informação vai mesmo partir-se em dois e anuncia-se uma batalha feroz pelo controlo de territórios, da mesma forma como durante a guerra fria, as superpotências disputavam o controlo de países terceiros.

Para lá dos estragos imediatos que a perda da concorrência e redução de escala provocarão, fica uma questão especulativa. Até que ponto o ocidente será competitivo sem poder contar com as bases de produção e o mercado na China e como esta reagirá a não poder aceder à evolução e a inovação tecnológica ocidental e respetivo mercado. Não necessariamente quem ganha, mas quem perderá menos?

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