Cumpriram-se por estes dias trinta anos sobre a data da publicação de um dos livros mais polémicos das últimas décadas. Não, não estou a falar de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” cá do burgo, um pouco mais recente e que apenas provocou a não atribuição de um prémio literário e o exílio voluntário do seu autor. Também não foi censurado nem, tanto quanto me recordo, queimado. O livro em causa, incomparavelmente menos provocador, li os dois, deu origem a sentenças de morte, algumas executadas.
Vamos deixar de lado o facto de a larga maioria dos que falam (ou agem) excitadamente contra livros, filmes e o que quer que seja declarado satânico, não os conhece, não os leram e nem sabem bem o que está mesmo em causa. Apenas alguém terá ditado sentença e o povo acata.
Hoje, a publicação de um livro “religiosamente provocador”, que provoque pela narrativa heterodoxa, sem apelo direto ou indireto ao ódio ou à violência, seria mais tolerada? Infelizmente, penso que não. Curiosa e infelizmente alguma dessa intolerância é justificada e defendida por insignes figuras de uma sociedade, a nossa, que deve o seu sucesso aos seus valores de tolerância, liberdade e respeito pelas diferenças. Há aqui um passo perigoso: quando a abertura é utilizada para fechar, quando o respeito pelos outros é utilizado e manipulado para proteger projetos hegemónicos e intolerantes.
Sem prejuízo do tal respeito, insignes e menos insignes deveriam firmemente refutar e intransigentemente condenar as intolerâncias e as violências contra simples heterodoxias, por mais escandalosas que possam parecer. Caso contrário, serão os alicerces da nossa sociedade que se questionam e abalam. E se ela não é perfeita, não conheço outra melhor. É importante não regredirmos.
Vamos deixar de lado o facto de a larga maioria dos que falam (ou agem) excitadamente contra livros, filmes e o que quer que seja declarado satânico, não os conhece, não os leram e nem sabem bem o que está mesmo em causa. Apenas alguém terá ditado sentença e o povo acata.
Hoje, a publicação de um livro “religiosamente provocador”, que provoque pela narrativa heterodoxa, sem apelo direto ou indireto ao ódio ou à violência, seria mais tolerada? Infelizmente, penso que não. Curiosa e infelizmente alguma dessa intolerância é justificada e defendida por insignes figuras de uma sociedade, a nossa, que deve o seu sucesso aos seus valores de tolerância, liberdade e respeito pelas diferenças. Há aqui um passo perigoso: quando a abertura é utilizada para fechar, quando o respeito pelos outros é utilizado e manipulado para proteger projetos hegemónicos e intolerantes.
Sem prejuízo do tal respeito, insignes e menos insignes deveriam firmemente refutar e intransigentemente condenar as intolerâncias e as violências contra simples heterodoxias, por mais escandalosas que possam parecer. Caso contrário, serão os alicerces da nossa sociedade que se questionam e abalam. E se ela não é perfeita, não conheço outra melhor. É importante não regredirmos.
3 comentários:
E quando as simples heterodoxias são violentas e intolerantes? Não sei ser tolerante neste caso.
Deve ser da hora tardia, mas se não é o livro do Saramago, não me lembro qual é o outro.
Júlio
Se são violentas e intolerantes já não serão simples... certo ? :)
J. Neves
O outro tem um título que acabam em "Satânicos" e o nome do autor começa com "Salman"...
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