Eu, e muitos outros creio bem, já não tenho pachorra para seguir o “conflito” dos professores. O que está a acontecer é uma tentativa de mudança organizacional de um grupo bastante horizontal, “professores há só uns”, para uma estrutura com alguma hierarquia e de uma fase em que a “evolução na carreira” era feita escolhendo individualmente algumas acções de formação mais ou menos simpáticas para uma gestão de desempenho e de desenvolvimento estruturada. Está em causa sair de uma zona de conforto e a reacção à mudança é típica e previsível, sendo que o rigor na condução desse processo é a única forma de ele não se desfigurar completamente em três tempos.
Não sei dizer o quão perfeito ou deficitário é o modelo contestado. Só me parece que com tanta gente organizada e esclarecida era mais produtivo avançar com sugestões concretas e completas de revisão incremental ou radical do que este negacionismo básico que se vê pelas ruas. Sabendo todos que desde há vários anos o sistema de ensino exige claramente mudanças profundas, alguém se lembra de ver propostas minimamente consistentes e inovadoras apresentadas pela classe ou pelos seus sindicatos nos últimos anos? Não, a luta é sempre para recusar, suspender e anular. E passo ao lado daquela subtil pérola do “professores avaliados, alunos prejudicados”.
Enquanto os professores preocupados com a imperfeição do seu sistema de avaliação e sem a mínima sombra de dúvidas sobre o recebimento do seu salário no final do mês cruzam o país de autocarro e lutam na ruas com cantilenas de “hora” a rimar com “ir embora”, existem empresas que lutam por conseguir encomendas, executá-las e sobreviver com o resultado obtido; existem recém-licenciados que lutam por conseguir realizar riqueza para si e para o país; existe gente em encruzilhadas terríveis para as quais uma das suas últimas preocupações seria o trabalho burocrático ou a imperfeição da ficha de avaliação. Estes não estão em “zona de conforto” e não pretendo concluir que toda a gente deveria ir para uma zona de desconforto e de precariedade para dar valor ao que é fundamental.
O que pretendo dizer é a situação actual dessas empresas e dessas pessoas é, em grande parte, resultado do sistema de ensino. E, o que o sistema de ensino de hoje, determina fortemente o que o país vai ser amanhã. Se estamos todos de acordo sobre isso, haja humildade e acabe-se com a “festa”.
Não sei dizer o quão perfeito ou deficitário é o modelo contestado. Só me parece que com tanta gente organizada e esclarecida era mais produtivo avançar com sugestões concretas e completas de revisão incremental ou radical do que este negacionismo básico que se vê pelas ruas. Sabendo todos que desde há vários anos o sistema de ensino exige claramente mudanças profundas, alguém se lembra de ver propostas minimamente consistentes e inovadoras apresentadas pela classe ou pelos seus sindicatos nos últimos anos? Não, a luta é sempre para recusar, suspender e anular. E passo ao lado daquela subtil pérola do “professores avaliados, alunos prejudicados”.
Enquanto os professores preocupados com a imperfeição do seu sistema de avaliação e sem a mínima sombra de dúvidas sobre o recebimento do seu salário no final do mês cruzam o país de autocarro e lutam na ruas com cantilenas de “hora” a rimar com “ir embora”, existem empresas que lutam por conseguir encomendas, executá-las e sobreviver com o resultado obtido; existem recém-licenciados que lutam por conseguir realizar riqueza para si e para o país; existe gente em encruzilhadas terríveis para as quais uma das suas últimas preocupações seria o trabalho burocrático ou a imperfeição da ficha de avaliação. Estes não estão em “zona de conforto” e não pretendo concluir que toda a gente deveria ir para uma zona de desconforto e de precariedade para dar valor ao que é fundamental.
O que pretendo dizer é a situação actual dessas empresas e dessas pessoas é, em grande parte, resultado do sistema de ensino. E, o que o sistema de ensino de hoje, determina fortemente o que o país vai ser amanhã. Se estamos todos de acordo sobre isso, haja humildade e acabe-se com a “festa”.
7 comentários:
Se não sabes "o quão perfeito ou deficitário é o modelo contestado", o melhor seria consultar a imensa legislação que tem saído e não colocar esse ar de desdém perante uma classe que, ao contrário do que dizes, QUER SER AVALIADA e já propôs outros modelos de avaliação. Os bons profissionais sempre o quiseram!! E há muitos!! Sempre foram tratados de igual forma!! Talvez fosse bom informares-te sobre o sistema de avaliação de dempenho noutros países. Aquele que se propõe aos nossos professores foi importado do Chile...
Deverás saber também que não está só em causa a avaliação de desempenho... muitas outras matérias levaram a esta saturação generalizada. Estaremos a voltar ao "quero, posso e mando"?... Ao Antigo Regime??... Após a maioria dos professores deste país dizerem "Não!!!"???
Se o resultado de certas empresas, com recém-licenciados, tem a ver com o sistema de ensino, acredito! Não serão, na generalidade, os professores os principais responsáveis. Regressamos ao Ministério da Educação para o qual apenas interessam o ECONOMICISMO e as ESTATÍSTICAS DE SUCESSO!!! Os professore estão a "pagar" outros problemas económicos, a subsidiar o BPN e outros afim... Além disso, se o sistema privado, nomeadamente as empresas, sempre considerou que os professores tinham mais privilégios, por que razão não terão tentado conseguir esses "benefícios"? Afinal, devemos "lutar" pelo melhor para todos. Querermos que os que "estão melhor(??!!)", fiquem pior, será o mais sensato???!!
Também existem muitos professores com 10 ou mais anos de serviço "que lutam por conseguir realizar riqueza para si e para o país", neste caso para serem PROFESSORES, mas continuam a ser contratados,..., muitos deles realizando um excelente trabalho.
Aconselho-te a ler um editorial do Público, subscrito por José Manuel Fernades e intitulado " Os professores e o autismo da Ministra".
Não tens "pachorra"?! Informa-te! Vai ao cerne da questão, o que penso que gostas de fazer. Dispenderás dias..., mas talvez entendas, pela primeira vez, que, o que os professores querem, na generalidade, é formar bons alunos, bons membros da comunidade.
Nunca entendi esse teu autismo perante esta classe... :(
Mais um pequeno comentário... Dizem que 80% dos professore foram manipulados... Ou serão os partidos que querem aproveitar-se da situação????
Em primeiro lugar que fique claro que não tomo a parte pelo todo. Se a maioria dos professores quer ser avaliada, há um problema de comunicação deles e dos sindicatos que os representam, porque não é de forma nenhuma essa a mensagem que passa. A mensagem que passa é lutar para não mexer/alterar nada.
Quando digo sistema de ensino quero dizer todo o sistema de ensino incluindo este e outros ministros precedentes. Se os ministérios fizeram muita asneira, do lado dos sindicatos e demais representantes que contributo foi apresentado para a melhoria do sistema de ensino? Só me recordo de estarem sempre contra!
O JM Fernandes pode ter razão nalgumas coisas mas o pôr o “mercado” a trabalhar para escolas e professores parece-me muito exagerado. Pode e deve haver diferenciação nas escolas mas pelo mérito dos alunos e não por a escola mais rica pagar o professor mais caro. Igualdade de oportunidades sim, discriminação económica não. Isso é muito perigoso. Imaginar também as autarquias a recrutar os professores pode ter a melhor das intenções mas o resultado é fácil de imaginar com os autarcas que temos.
As empresas não podem oferecer “privilégios” se esses privilégios as tornarem inviáveis e for tudo para o desemprego. O Estado pode desde que aumente os impostos, ou então o pior que pode acontecer é o trauma inultrapassável de as pessoas terem que mudar de função, sempre com o fim do mês garantido.
Também não acho que “a maioria estar contra” deve implicar mudança de política. A maioria das pessoas estarão certamente favor de terem um aumento generoso de vencimento e …O ir atrás de tudo e de todos e recuar ao menor espirro é o estilo Guterres que deu o resultado conhecido.
Não vou consultar a legislação, porque não é por aí certamente que entenderei o que querem os professores. Limito-me a interpretar o que vejo e especialmente as posturas e que são de uma ausência completa de espírito construtivo e de inovação.
E não deixa de ser curiosa também esta “solidariedade” nova entre professores e alunos quando se tenta ser mais exigente e menos tolerante (que acho que era o que muitos professores pretendiam …)
Eu, tua mulher e professora, só hoje vi este texto, em parte, mas não só, por ter andado naquilo a que aqui chamas "festa".
Passo por cima de tudo - será melhor - para apenas responder à pergunta do título: Não, não chega ainda.
Nucha, gostei das tuas poucas e excelentes palavras...
Bem hajas!
Haverá sempre "problemas de comunicação", para que passe o que "deve" passar. E se preciso for, fabricam-se estatísticas para dar razão ao que o governo decide.
E se te parece chavão, a mim não!
Ainda estou à espera que alguém, que não seja professor, leia atentamente - e compreenda totalmente - o modelo actual de avaliação dos professores, e depois me diga assim: - Não vejo nada de mal aqui. Eu cá, se fosse professor, estaria feliz com isto. É justo, é funcional e faz sentido!
Ainda não encontrei disso, mas apenas porque me falham logo a primeira etapa!
Mas quando encontrar, vou fazer uma experiência bem divertida (aproveitando que também não sou professora, o que dá um jeitaço): vou esperar que essa pessoa diga que não gostaria de ser avaliada dessa maneira, e depois propalar para todo o país que ela disse (e todas as outras disseram) que não queria ser avaliada! A versão reduzida da mensagem é mais económica, e sempre dá um melhor highlight! E o que seria cá do povo sem estes "problemas de comunicação" para se ir entretendo?
Um processo de avaliação é sempre um processo complexo, mesmo em empresas em que existe liderança clara e “respeito pela autoridade”. Nunca é fácil prever todas as implicações à partida e o normal, já que não se fala de questões de vida ou de morte, seria aplicar, ensaiar e depois tirar conclusões e se necessário corrigir. Falar em auto-avaliação unicamente e sem quotas não é sério e podem sempre ver como se faz no ensino privado em que tanto quanto sei existe um modelo idêntico ao “famoso polémico” que funciona sem problemas.
Os professores públicos têm que decidir por uma vez se pretendem continuar todos iguais e com evoluções mais ou menos cegas pelo calendário ou se aceitam jogar o jogo da diferenciação, que fatalmente “dói”. Avaliação séria sem “dor” não existe…
E os sindicalistas poderiam pensar em construir algo, por uma vez, para variar, em vez de serem apenas guardiões dos sacrossantos direitos adquiridos.
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