Não era dali e, por isso, dali partiu. Pela forma como vestia ou como teria actuado. Por acções ou intenções, provadas ou presumidas, estava a ser delapidada. Não parecia um processo tradicional, organizado, em que o condenado é preparado e parcialmente enterrado, os homens até à cintura e as mulheres até ao peito. Parecia mais uma iniciativa espontânea. Uma mole masculina acotovelava-se e saltava em torno e por cima dela, para atirar pedras, dar pontapés, fotografar e filmar. Há tanto interesse em agredir como em registar. É, aliás, a difusão de um desses registos que me alimenta esta descrição e de onde extraí as imagens acima inseridas.
Ela em posição fetal tenta proteger a cara ensanguentada. Resiste às tentativas de ser exposta, para pedra, pontapé ou fotografia. Tenta debilmente erguer-se, mas cai rapidamente. Finalmente, uma grande pedra imobiliza-a. Alguém a eleva bem alto para a atirar de novo, rebentando o crânio. Uma poça de sangue espalha-se lentamente e a turba acalma. Terminam os pontapés e as pedras, reduz o ritmo das fotografias e o filme acaba.
Depois de escrever o texto acima tentei situar o assunto e foi fácil. Passou-se no sul do Iraque, o crime foi namorar com um rapaz de etnia diferente e passar uma noite fora de casa. Tinha 17 anos. O filme que eu recebi tinha minuto e meio, o suplício demorou cerca 30 minutos. Nome: Du’a Khalil Aswad.
E desculpem-me as outras dezenas de milhares de mortos, mas há coisas para as quais, para mim, os sinos dobram com mais intensidade do que quando é um terramoto na China ou um ciclone na Birmânia.
Ela em posição fetal tenta proteger a cara ensanguentada. Resiste às tentativas de ser exposta, para pedra, pontapé ou fotografia. Tenta debilmente erguer-se, mas cai rapidamente. Finalmente, uma grande pedra imobiliza-a. Alguém a eleva bem alto para a atirar de novo, rebentando o crânio. Uma poça de sangue espalha-se lentamente e a turba acalma. Terminam os pontapés e as pedras, reduz o ritmo das fotografias e o filme acaba.
Depois de escrever o texto acima tentei situar o assunto e foi fácil. Passou-se no sul do Iraque, o crime foi namorar com um rapaz de etnia diferente e passar uma noite fora de casa. Tinha 17 anos. O filme que eu recebi tinha minuto e meio, o suplício demorou cerca 30 minutos. Nome: Du’a Khalil Aswad.
E desculpem-me as outras dezenas de milhares de mortos, mas há coisas para as quais, para mim, os sinos dobram com mais intensidade do que quando é um terramoto na China ou um ciclone na Birmânia.
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."
De Jonh Donne e utilizado por E. Hemingway para título do seu famoso romance.
1 comentário:
Fizeste o caminho da procura que levou da amostragem de um caso à denúncia do caso de Du’a Khalil Aswad. E isso faz toda a diferença.
É preciso que a cada um que seja conhecido mostremos o horror, gritemos a denúncia da crueldade, o tremendo erro, a enorme injustiça, a deturpação de “valores” que nem pelo facto de serem tradicionais, culturais ou religiosos se podem aceitar num mundo de humanidade…!
Um era curdo outro shiita? Pena, então, que o coração de ambos não tenha batido a rebate num alerta sobre essa diferença, mas apenas tenha pulsado sangue jovem, talvez numa emoção de amor…
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