26 março 2016

Não roubarás…

Tenho para mim que as religiões, no seu enquadramento social, incluem quatro dimensões. A espiritual, original, sobre a relação do homem com o transcendente; a comunitária, como traço de identidade comum partilhada; a regulamentar, onde se agrupam regras básicas práticas e éticas e, finalmente, a da manipulação política, a que promove as guerras chamadas religiosas.

Dentro do regulamento social associado a uma prática religiosa é normal encontrar-se o princípio do “não roubarás”. Esta condenação/proibição do furto pode ser encarada como uma questão ética, de alguma forma associada à dimensão espiritual, mas também ser entendida como fundamental à sobrevivência da comunidade, à imagem das recomendações sanitárias do tipo “não comer um animal encontrado morto”.

De facto, uma sociedade em que seja aceitável e prática comum o roubo é uma sociedade pouco saudável, no mínimo condenada ao subdesenvolvimento. Uma comunidade em que metade são ladrões e outra metade polícias, não prospera, já sem sequer evocar a possibilidade e as consequências de a própria policia também roubar. Significa isto que motivos para não tolerar o roubo vão muito para lá de princípios éticos e/ou convicções religiosas: incluem proporcionar a criação sustentada de riqueza.

Roubar é, resumidamente, apropriar-nos de algo a que não temos direito. Tanto pode ser aquele que assalta uma casa, como o que desvia dinheiros públicos. O primeiro é repugnado socialmente sem condescendência; o segundo por vezes apela, e com algum sucesso, à relativização e ao descaramento do “roubo mas faço”. Tolerar, mesmo apenas pelo simples ignorar, a rapina é como comermos sem cuidados higiénicos. A prazo, faz sempre mal… Não estará aqui uma das principais razões para andarmos sempre “doentes”, de crise em crise? A quem corresponda!

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