O K. é o “manager” do restaurante italiano do Sheraton de Alger. Sempre impecavelmente aprumado e correcto, de tez clara e rosto comprido poderia ser português, judeu ou cabil.
Após uma ausência prolongada, tenho direito a uma recepção tipo regresso de filho pródigo. Um comentário sobre a baixa frequentação do restaurante traz à cena a famosa crise mundial. O Karim acha que a quebra do preço do petróleo foi uma manobra concertada para reduzir os proveitos dos países produtores. Tento explicar que não. Daí passa para a taxa de inflação na Argélia bastante baixa para quem “importa tudo”. Explico que o resto do mundo até está a entrar em deflação e passamos a falar em geral, e mal, da Argélia. Assunto sensível. Como em muitas outras paragens, os locais não poupam adjectivos para se auto-flagelarem, mas são extremamente susceptíveis quanto a avaliações negativas exteriores. Ele parece encaixar bem as notas que vou deixando e acha que tudo, mas mesmo tudo, é uma questão de cultura. Partimos para uma longa conversa que nunca o distrai da necessidade de manter o meu copo no nível correcto. Chama o inglês para marcar o seu cosmopolitismo. Acha que não está o “right people no right place” mas eu contradigo-o de novo: se fosse apenas isso bastava rodar o “people”: o problema é a estrutura e os conteúdos dos “places” ser deficiente: não resolve nada instalar óptimos pneus num automóvel que apenas tenha três rodas. Não tenho pachorra para falar em duas línguas à mesma pessoa e peço-lhe a conta em flamengo – acho que fui mauzinho. Acaba por, meio envergonhado, meio orgulhoso, confessar que tem um curso de gestão hoteleira, um curso de informática e um curso de economia e está a ali a dirigir pessoas para as mesas
No final lá confirmo que é cabil e lanço provocador que a Argélia só evoluirá a sério quando Tizi Ouzou for a sua capital. Ele acha isso impossível mas tem a certeza de que é e sempre foi a capital cultural. É onde há uma identidade bem definida e ancorada.
Apesar de alguma contenção, o meu jantar terá representado cerca de 3 dias do vencimento dele. Tem uma namorada mas não consegue ganhar para uma casa e um carro. A bússola aponta para o Canadá onde, aí sim, existe e funciona o elevador social que premeia o mérito e o esforço.
Após uma ausência prolongada, tenho direito a uma recepção tipo regresso de filho pródigo. Um comentário sobre a baixa frequentação do restaurante traz à cena a famosa crise mundial. O Karim acha que a quebra do preço do petróleo foi uma manobra concertada para reduzir os proveitos dos países produtores. Tento explicar que não. Daí passa para a taxa de inflação na Argélia bastante baixa para quem “importa tudo”. Explico que o resto do mundo até está a entrar em deflação e passamos a falar em geral, e mal, da Argélia. Assunto sensível. Como em muitas outras paragens, os locais não poupam adjectivos para se auto-flagelarem, mas são extremamente susceptíveis quanto a avaliações negativas exteriores. Ele parece encaixar bem as notas que vou deixando e acha que tudo, mas mesmo tudo, é uma questão de cultura. Partimos para uma longa conversa que nunca o distrai da necessidade de manter o meu copo no nível correcto. Chama o inglês para marcar o seu cosmopolitismo. Acha que não está o “right people no right place” mas eu contradigo-o de novo: se fosse apenas isso bastava rodar o “people”: o problema é a estrutura e os conteúdos dos “places” ser deficiente: não resolve nada instalar óptimos pneus num automóvel que apenas tenha três rodas. Não tenho pachorra para falar em duas línguas à mesma pessoa e peço-lhe a conta em flamengo – acho que fui mauzinho. Acaba por, meio envergonhado, meio orgulhoso, confessar que tem um curso de gestão hoteleira, um curso de informática e um curso de economia e está a ali a dirigir pessoas para as mesas
No final lá confirmo que é cabil e lanço provocador que a Argélia só evoluirá a sério quando Tizi Ouzou for a sua capital. Ele acha isso impossível mas tem a certeza de que é e sempre foi a capital cultural. É onde há uma identidade bem definida e ancorada.
Apesar de alguma contenção, o meu jantar terá representado cerca de 3 dias do vencimento dele. Tem uma namorada mas não consegue ganhar para uma casa e um carro. A bússola aponta para o Canadá onde, aí sim, existe e funciona o elevador social que premeia o mérito e o esforço.
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