09 janeiro 2009

Gaza e Gazirão

Gaza andava a encravar o Glosa Crua há vários dias. Este texto foi aberto, retocado e fechado várias vezes, até atingir esta forma, publicável, mas sem ainda o sentir encerrado. Acompanhei o assunto de várias fontes, até mesmo em contacto directo com a “rua árabe” e falar/escrever sobre o tema é, no mínimo, delicado.

A existência de Israel e o seu histórico de vitórias militares não estão nem serão tão cedo “digeridas” pelo mundo árabe, que facilmente se solidariza e mobiliza para suportar os irmãos palestinianos vítimas. O facto de o Hamas, para quem um palestiniano morto por um israelita é um mártir e “quantos mais houver, mais fortes seremos”, ter sido quem disparou primeiro é irrelevante. Para a opinião pública árabe, os “rockets” que caem às dezenas numa área pequena e praticamente sem causar vítimas contam pouco ou nada.

Para lá de ninguém gostar de ver pedras choverem no seu quintal todos dias, mesmo não provocando estragos de maior, se efectivamente o Hamas está a ser apoiado e armado pelo Irão, o tempo corre contra o estado hebreu. Pode assim Israel ter razão na sua atitude pro-defensiva, ficando “apenas”o grande “apenas” das centenas de mortos.

Os estados árabes “moderados”, certamente não modelares em organização nem em transparência, a braços com o controlo dos islamitas radicais dentro das suas próprias fronteiras, não apoiam o Hamas e vêem assustados os protestos crescerem nas suas ruas. Curiosamente o cerco de Gaza e a consequente densidade populacional absurda têm dois actores: Israel pelo norte e leste e o Egipto pelo sul, se bem que as críticas sejam integralmente facturadas ao primeiro. Diga-se em abono da verdade que os palestinianos não têm fama de bons visitantes. A Jordânia expulsou a OLP do seu território em 1970 por atentarem contra o rei anfitrião. Aliás, penso que um líder do Hamas no Egipto não gozaria de grande amplitude de movimentos (expressão eufemística).

Pode Israel estar “simplesmente” a fazer algo de indispensável à sua sobrevivência, mas, na prática, está a ajudar a que se hoje houvesse eleições abertas teríamos provavelmente um “Irão” em todo o Médio Oriente. Não há eleições, mas …às vezes há revoluções. Quando a “autoridade palestiniana” dialoga com Israel, a seguir perde as eleições para o Hamas. Se um dia, por sua vez, o Hamas negociar veremos esses resultados consolidados ou surgirá um Hamas bis? O certo é que há dois tipos de paz: a dos cemitérios e a dos bravos e ainda faltam muitos mortos e os bravos que existem não chegam.

Enquanto a “rua árabe” não entender que a resposta aos padrões de vida “ocidentais”, que eles odeiam e invejam, não é um Irão, as perspectivas a prazo só podem piorar. Tentar esquecer uma dor de fígado bebendo whisky não ajuda nada, mas mesmo nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu penso que só quando mundo acabar é que este conflito terá fim. E sinceramente, mesmo vendo as imagens que os meios de comunicação social mostram todos os dias dos massacres, das mortes, das crianças, das mulheres e dos velhinhos inocentes não consigo, mas é que não consigo mesmo, deixar de estar do lado de Israel.
HP

Carlos Sampaio disse...

HP

Não faço ideia de como vai acabar..
Só sei que estou de passagem na Argélia e resolvi ficar bem estacionado porque há ameaças de manifestações de solidarieade com Gaza, não autorizadas e de desfecho imprevisível, quando acabar a grande reza das 6as feiras dentro de meia hora...