11 setembro 2008

Cerimónias fúnebres


Hoje na Catedral de Almuneda em Madrid foi celebrada uma missa em memória das vítimas do acidente da Spanair. Mesmo Zapatero,que, criou polémica ao não participar na missa celebrada em Valência por Bento XVI há dois anos (“nem Fidel Castro se recusou a assistir à missa de João Paulo II!!”), marcou presença.

O evento criou alguma polémica porque algumas das vítimas não eram católicas e as suas famílias não gostaram de ver os seus encomendados assim a um Deus terceiro.

Duas reflexões. A primeira é esta “Espanha Sacristia”, unificada há 5 séculos com o ferro e o fogo da fé, que ainda continua a ter a Igreja a cheirar de perto o poder secular, recusando-se a criar uma distância que já existe de uma forma consolidada na maior parte da Europa Ocidental.

A segunda é que o desaparecimento da igreja do quotidiano tem esse momento resistente. Para muitos, como eu, já não há missa semanal, nem casamento em altar, nem baptistério, mas há um momento resistente à esmagadora maioria dos agnósticos: o funeral.

Passamos por alto todos os outros momentos, mas aquele final continua a precisar de algo mais, continua a requerer um cerimonial que ainda não tem alternativa. Estamos a caminhar para uma situação em que os padres servirão apenas para enterrar pessoas? Questão em aberto…

3 comentários:

Maria Manuel disse...

Ainda que reconheça que se encontra despido do seu significado religioso, custa à sociedade mudar os seus rituais, mais ainda quando tocam valores comunitários tão profundos como os da solidariedade na morte. As igrejas católicas são, pelo menos isso há que reconhecê-lo, “inclusivas”, não exercem hoje direito de admissão no seu espaço. Poucos dos que vão a funerais e missas fúnebres têm a sorte de acreditar na vida para além da morte. É a vida terrena que os move por sofrimento, amizade ou dever cívico.
Lembro vagamente de uma família que, na minha terra, resolveu fazer um funeral não religioso e privado e da confusão que isso gerou na comunidade de amigos e conhecidos!

Maria Manuel disse...

Bom, não quero dar o dito por não dito, mas parece que o Papa afirmou hoje em Lourdes que os divorciados que voltaram a casar devem ser impedidos de comungar... o que, a pôr-se em prática, não poupará embaraços nos procedimentos.
Não é um fechar a porta, mas é um retrocesso e mau sinal.
Com estas e com outras semelhantes acho que os padres católicos vão mesmo acabar confinados à celebração fúnebre.

Carlos Sampaio disse...

MM

A igreja está numa encruzilhada grande entre decidir se se deve restringir a "poucos mas bons", ou seja cumpridores de todos os preceitos ou se deve manter alguma "tolerância" para não perder "volume"... Não será fácil, mas não é com impulsos legislativos que irá conseguir resolver a questão ...

Quanto aos funerais, será muito difícil deixar de existir algum ritual e à falta de alternativa, lá vai a cruz servido....