19 julho 2008

A Guerra a ser perdida


Algumas notícias :

1. “China ameaça liderança de Portugal em Angola”
“Primeiro-ministro desloca-se propositadamente a Angola para participar no dia de Portugal na FILDA (Feira Internacional de Luanda) [… ] Esta viagem acontece também numa altura em que a China ameaça o primeiro lugar de Portugal enquanto exportador para Angola”. (citando na íntegra o Jornal de Negócios de 16.7.08)

2. “China e Rússia vetaram sanções do Conselho de Segurança da ONU contra o Zimbabwe”. No dia 11/7, depois da fantochada eleitoral, o CS queria impor limitações de deslocação a Mugabe, congelar activos do regime e impor um embargo de armas. Aqueles dois países acharam que não valia a pena…

3. “Presidente do Sudão acusado pelo tribunal internacional de Haia de genocídio”. Parece não haver dúvidas objectivas sobre a “justeza” do processo, mas, por outro lado, há muitas inquietações pragmáticas sobre o resultado da aplicação da justiça. Pode simplesmente implicar que o “Ocidente” passe a ser encarado como um “inimigo não isento”, a ONU deixe de poder actuar, a situação humanitária no Darfur se agrave e… fique lá isolado como parceiro internacional aquele que “tem os olhos em bico”, dando um apoio forte ao regime, com poucas preocupações de moralidade e justiça.

Depois de uma Guerra Fria que em África declinou em guerrilhas, golpes de estado e movimentos de “libertação”, hoje anuncia-se uma “guerra económica” entre o Ocidente e a China e, pelo andar das coisas, acho que a China a vai ganhar. É que cada vez que o Ocidente tenta limpar o registo dos Mobotu's e forçar uma moralização no continente, está a dar um passo atrás e a perder pontos nesse conflito.

E não pensemos que se trata apenas de economia de empresas. Os batéis improvisados que demandam as Canárias, a Andaluzia e a Sicíla são uma consequência muito directa dessa África governada por Mugabe's e Bashir’s.

3 comentários:

Groucho KCarão disse...

É preciso lembrar, no entanto, que a África é o que é por conta do "Ocidente" (Europa e Estados Unidos). Nunca se pensou realmente no bem da África. Muito se fala em liberdade, na cultura "ocidental", mas nunca se deu liberdade pra esses povos se guiarem. Os atuais países africanos foram construídos com base nas necessidades (se é que se pode chamar a acumulação de capital de "necessidade") econômicas dos impérios europeus. Durante a Guerra Fria, e até os dias de hoje, as potências sempre financiaram seus conflitos internos, pois a indústria que mais se identifica com a atual fase do capitalismo é a bélica. O interesse na África não se deve a seu povo, mas a seus minérios, que só podem ser encontrados lá e na China, grande parte. Me preocupa a eleição de Barak Obama, que pode ser usado pra gerar melhor diplomacia entre a "águia demoníaca" e nossa Mãe África. Axé.

Carlos Sampaio disse...

Caro Adriano Carão

Respeito a sua opinião e, como digo no texto, o registo do "Ocidente" em África não é exemplar. O problema é que passados 30 anos sobre as independências, a África não está melhor e o "Ocidente" não pode continuar ad-eternum a ser acusado por isso.

Desculpe-me a franqueza e a crueza, mas tenho a certeza que se África continuasse colonizada, hoje o povo (entenda-se bem: o povo e hoje) africano estaria melhor do que o que está, pela simples razão de que a opinião pública ocidental o forçaria.

Uma África sob influência chinesa que não tem opinião pública moralizadora não é boa notícia para o povo africano.

Groucho KCarão disse...

Não vejo isso como questão de "moralidade". É questão de exploração, mesmo! Acho que nem chineses nem nenhum outro povo têm o direito de influir nos rumos que os povos africanos queiram tomar. Ademais, não consigo enxergar que tipo de moralidade o "Ocidente" poderia oferecer pro bem da África, já que essas nações insistem em poluir, com o fim do mundo ali na esquina, são insensíveis aos imigrantes tão necessitados e, no caso dos Estados Unidos, são a favor da tortura e infringem de várias formas a liberdade de seus cidadãos. Obrigado. Axé.