Minas são sempre uma riqueza temporária e insustentável. É
tirar enquanto houver e for viável, o que quer dizer até o dia em que o custo
de retirar for superior ao preço do mercado do minério e se perder a
rentabilidade económica.
Poderá prolongar-se um pouco a viabilidade com “ajudas”, que
é como quem diz o geral do contribuinte ou o consumidor pagar o diferencial dos
custos. E é isto que tem acontecido no carvão no norte de Espanha e que agora
acaba.
Os protestos dos mineiros espanhóis estão nas primeiras
páginas com estradas cortadas, barricadas e arremesso de pedras. Um cenário
mais ou menos habitual, por vários motivos e em diversas geografias. Ao
procurar no mapa onde ocorriam exactamente aqueles protestos em “Leão e
Astúrias”, encontrei, não longe, Villablino, que não deve dizer nada a muita
gente.
Villablino é uma povoação nos montes de Leão onde, salvo erro
em 1988, numa iniciativa algo invulgar e louvável, Fernando Reino, na altura
Embaixador de Portugal em Madrid, resolveu colocar as comemorações locais do
10 de Junho, dado o elevado número de imigrantes portugueses mineiros lá
instalados. Estive lá nessa altura, integrado no grupo que foi levar alguma cor
e animação aquela terra tão escura, tão enterrada lá longe, de difícil acesso,
e em que as pessoas literalmente se enterravam.
Recordo gente a quem ouvíamos espantados e arrepiados a
idade real, anunciando uns 20 anos menos do que a aparente; gente para quem um
pesqueno corte, em contacto com o minério, deixava uma mancha escura indelével
na pele, relatos terríveis de gente com vida muito, muito difícil…
Não voltei lá; não fica no caminho para nenhum lugar. Mesmo
a nova auto-estrada entretanto construída passa longe. Penso que haverá bastante
menos portugueses e talvez as minas em actividade tenham condições de trabalho
menos duras. No entanto, definitivamente, aqueles protestos dos mineiros lá dos
montes de Leão, soam-me diferentes dos dos jovens urbanos simplesmente “indignados”.
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