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02 dezembro 2025

A exclusividade está nos resultados


A Fórmula 1 é um desporto de alta emoção (para quem gosta, claro) e as preferências relativamente aos pilotos frequentemente têm uma componente subjetiva e emotiva, que vai para lá dos frios resultados objetivos. Não é por acaso que Gilles Villeneuve com apenas 4 temporadas e meia disputadas e 6 vitórias registadas, continua a ser recordado, 43 anos após a sua morte. Muitos acham (aqui o escriba incluído) que as suas características de pilotagem, combatividade e além disso humanas não foram igualadas. Não me peçam para ser racional a suportar esta consideração.

Dentro dos campeões mais recentes nem Hamilton nem Verstappen me entusiasmam, nem suscitam empatia. Acho mesmo que a imagem cultivada por Hamilton de “amigo do ambiente”, com dieta vegan, redução do uso de plásticos, veículos elétricos, etc, é algo incompatível com a sua profissão, para não dizer que entra claramente no campo da hipocrisia. Como é possível conciliar isso com ser piloto de F1, automóveis que bebem combustível como ogres, gastam pneus a um ritmo alucinante, enormes quantidades de peças de desgaste de vida curta, sem falar em recorrentes acidentes que muito material enviam para a sucata…. acrescentando ainda o périplo geográfico mundial de equipas e demais staff. Podem tentar melhorar algo, mas para contabilizar isto como atividade amiga do ambiente é necessária muita, muita boa vontade.

Com grande impacto mediático foi anunciado no início da época de 2024 que para 2025 ele integraria a Ferrari. Esta antecipação é estranha. Por muito profissionais que sejam as equipas e os pilotos, passar a época inteira a saber que no final tudo muda é algo desconcertante para quem sai e para quem entra.

Para lá da estranheza do “timing”, parecia também pouco garantido o impacto e resultados desportivos que ele aportaria, apesar de toda a experiência e palmarés.  Não parecia possível a repetição do milagre “Schumacher” na equipa italiana dos anos 2000. Não me parecia a mim, fã dos carros vermelhos, nem a gente bastante sabedora e com muitos kms de F1, como Bernie Ecclestone e Eddie Jordan. Eles questionavam se o interesse da Ferrari seria desportivo… ou de marketing (capas de revista...) e que desportivamente a Ferrari muito mais bem servida continuando com Carlos Sainz Jr.

Numa entrevista à Time, foto acima (sim, o modelo catita é um piloto de F1), Hamilton contra-argumentou que não tinha que dar ouvidos a velhos, ainda por cima brancos. Que era o primeiro e único negro campeão de F1, que era diferente, a idade para ela corria de outra forma, etc. Enfim, eu julgava que a não discriminação racial era um caminho com dois sentidos. Acrescentava ainda que receava encontrar na Ferrari um ambiente menos diverso e inclusivo do aquele a que estava habituado na Mercedes. Uma entrevista muito à la moda.

O início da temporada de 2025 foi decepcionante. O carro não esteve brilhante, mas o seu colega de equipa foi sistematicamente superior. Falta de habituação ao carro, diziam. Quando já em agosto, na Hungria, Leclerc faz a pole-position e Hamilton fica pelo 12º lugar da grelha, este classifica-se como um “inútil”. Estão a ver Villeneuve assim resignado, ele que desde que o motor trabalhasse e o carro tivesse no mínimo duas rodas nunca baixava os braços? Ou Senna?

O final da época já cai no domínio da humilhação. No Qatar parte 17º; vá lá que melhorou e terminou em 12º, Sainz, a quem ele tomou o lugar e passou a uma equipa teoricamente inferior, acabou no pódio.

Hamilton não é um Schumacher nem um Lauda. Os grandes pilotos são os que desenvolvem e melhoram as equipas por onde passam, não os que caiem em choradinhos. Como aparecerá trajado física e mentalmente na próxima capa de revista?

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