A Fórmula 1 é um desporto de alta emoção (para quem gosta, claro) e as preferências relativamente aos pilotos frequentemente têm uma componente subjetiva e emotiva, que vai para lá dos frios resultados objetivos. Não é por acaso que Gilles Villeneuve com apenas 4 temporadas e meia disputadas e 6 vitórias registadas, continua a ser recordado, 43 anos após a sua morte. Muitos acham (aqui o escriba incluído) que as suas características de pilotagem, combatividade e além disso humanas não foram igualadas. Não me peçam para ser racional a suportar esta consideração.
Dentro dos campeões mais recentes nem Hamilton nem
Verstappen me entusiasmam, nem suscitam empatia. Acho mesmo que a imagem cultivada
por Hamilton de “amigo do ambiente”, com dieta vegan, redução do uso de
plásticos, veículos elétricos, etc, é algo incompatível com a sua profissão,
para não dizer que entra claramente no campo da hipocrisia. Como é possível
conciliar isso com ser piloto de F1, automóveis que bebem combustível como
ogres, gastam pneus a um ritmo alucinante, enormes quantidades de peças de
desgaste de vida curta, sem falar em recorrentes acidentes que muito material
enviam para a sucata…. acrescentando ainda o périplo geográfico mundial de
equipas e demais staff. Podem tentar melhorar algo, mas para contabilizar isto
como atividade amiga do ambiente é necessária muita, muita boa vontade.
Com grande impacto mediático foi anunciado no início da
época de 2024 que para 2025 ele integraria a Ferrari. Esta antecipação é
estranha. Por muito profissionais que sejam as equipas e os pilotos, passar a
época inteira a saber que no final tudo muda é algo desconcertante para quem
sai e para quem entra.
Para lá da estranheza do “timing”, parecia também pouco
garantido o impacto e resultados desportivos que ele aportaria, apesar de toda
a experiência e palmarés. Não parecia
possível a repetição do milagre “Schumacher” na equipa italiana dos anos 2000.
Não me parecia a mim, fã dos carros vermelhos, nem a gente bastante sabedora e
com muitos kms de F1, como Bernie Ecclestone e Eddie Jordan. Eles questionavam
se o interesse da Ferrari seria desportivo… ou de marketing (capas de revista...) e que desportivamente a Ferrari muito mais bem servida continuando com Carlos Sainz Jr.
Numa entrevista à Time, foto acima (sim, o modelo catita é
um piloto de F1), Hamilton contra-argumentou que não tinha que dar ouvidos a
velhos, ainda por cima brancos. Que era o
primeiro e único negro campeão de F1, que era diferente, a idade para ela
corria de outra forma, etc. Enfim, eu julgava que a não discriminação racial
era um caminho com dois sentidos. Acrescentava ainda que receava encontrar na
Ferrari um ambiente menos diverso e inclusivo do aquele a que estava habituado
na Mercedes. Uma entrevista muito à la moda.
O início da temporada de 2025 foi decepcionante. O carro não esteve
brilhante, mas o seu colega de equipa foi sistematicamente superior. Falta de
habituação ao carro, diziam. Quando já em agosto, na Hungria, Leclerc faz a
pole-position e Hamilton fica pelo 12º lugar da grelha, este classifica-se como
um “inútil”. Estão a ver Villeneuve assim resignado, ele que desde que o motor
trabalhasse e o carro tivesse no mínimo duas rodas nunca baixava os braços? Ou
Senna?
O final da época já cai no domínio da humilhação. No Qatar
parte 17º; vá lá que melhorou e terminou em 12º, Sainz, a quem ele tomou o
lugar e passou a uma equipa teoricamente inferior, acabou no pódio.
Hamilton não é um Schumacher nem um Lauda. Os grandes
pilotos são os que desenvolvem e melhoram as equipas por onde passam, não os
que caiem em choradinhos. Como aparecerá trajado física e mentalmente na
próxima capa de revista?

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