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06 setembro 2025

Onde a eletrónica não chega


Há umas boas dúzias de anos, alguém me explicava como tirar uma fotografia “a sério”. Vais com o fotómetro à cena e medes a luz. Arbitras a focal e considerando a sensibilidade do filme, consultas uma tabela para ver qual a abertura correspondente, para uma exposição correta e ajustas a máquina para esses valores. Olhas pelo visor e rodas o anel de focagem até teres a máxima nitidez onde a queres ter. Enquadras e disparas! Ufa..

Desde esses tempos, muita coisa evoluiu e se automatizou, tanto que para uma larga maioria das fotografias, basta a última frase: Enquadrar e disparar… Certo que em circunstâncias especificas dá jeito “ajudar” a máquina a entender o que pretendemos em termos de exposição ou focagem, mas elas estão cada vez mais inteligentes e até tentam adivinhar se queremos modo paisagem ou retrato, por exemplo.

Hoje, é bastante difícil não ter uma foto tecnicamente perfeita, dentro dos limites do equipamento, naturalmente. Focagem automática, equilíbrio de brancos (tirar a cor da iluminação, caso não branca, da cor das coisas) e gama dinâmica (quando uma imagem é demasiada contrastada para ter simultaneamente detalhe nos escuros e claros não queimados), são tudo coisas que deixaram de ter história e necessidade de intervenção manual

Até a redução de ruído, quando temos “grão” na imagem, porque o fraco sinal não é visto de forma homogénea por todo o sensor, e que começou por ser grosseiras pinceladas um pouco borratadas quando vistas de perto, passou a ser muito mais fino e eficaz. Dizem que com a ajuda da IA.

Há, no entanto, uma coisa física em que a eletrónica não resolve. A filtragem da polarização. A luz é uma onda que se propaga. Quando, analogamente, sacudimos uma corda, podemos gerar ondas horizontais ou verticais. Isso serão diferentes polarizações. Se fizermos essa corda passar por uma grelha vertical, por exemplo, as ondas verticais passam e as horizontais são bloqueadas e vêm para trás… entendido até aqui? (senão google 😊)

A luz do sol, que não tem polarização preferencial, em certas circunstâncias, ao ser refletida, a reflexão é polarizada (só com uma única direção de “oscilação”). Se fizemos passar essa luz por uma “grade ótica”, que corta uma dada direção, e rodarmos a grade até chegar à direção especifica em causa, essa luz não passa.

Um exemplo dessa reflexão é na água. Se colocar um “filtro polarizador circular” em frente da minha objetiva e o rodar corretamente, posso fotografar os peixinhos no fundo de uma poça de água, mesmo que os meus olhos ao olhar diretamente apenas vejam a luz espelhada à superfície. A imagem acima é um exemplo de duas fotos no mesmo local, com a polarização aberta e fechada.

Outro caso, muito interessante, tem a ver com o céu. O azul que vemos, não é a cor do mesmo, é o resultado da sua iluminação pela luz do Sol. Ao final do dia, noutras condições, até vai para os vermelhos. Há uma componente refletida, resultando num céu mais esbranquiçado … e que é polarizada! Se bloquearmos essa componente através do tal filtro, vamos ver um céu de um azul muito mais escuro e bonito…

Acho que os algoritmos ainda não conseguem fazer isto!


 

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