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11 setembro 2025

Olhando o Islão (III)


3) Diferenças entre as três religiões do “Livro”

O Islão e o Cristianismo partilham os mesmos alicerces, o Judaísmo, mas o contexto em que se desenvolvem e a personalidade dos seus profetas principais dão origem a dois edifícios muito distintos.  O que é que os distingue, para lá do dia santo judeu ser sábado, dos cristãos domingo e dos muçulmanos sexta-feira?

A Bíblia e a Tora são também livros sagrados para o Islão, mas supostamente incompletos, e os muçulmanos deverão evitar a sua leitura, para não se baralharem.

Na primeira fase, o Islão tem Jerusalém como cidade-farol, como as outras duas religiões. Jerusalém é a “Meca” inicial, para onde são dirigidas as preces. Só mais tarde mudará para Meca, Meca. O carácter sagrado de Jerusalém para os muçulmanos é devido precisamente a estas raízes comuns. Supostamente Maomé foi uma vez teletransportado para lá e daí, de onde é hoje a cúpula do rochedo, onde Abrão terá sacrificado o carneiro, subiu em visita ao Céu…

Para um muçulmano, ser cristão é sofrer de uma espécie de deficiência, atraso… porque ficar numa religião mais antiga, se existe outra, mais recente e mais completa? É mesmo assim?  O Islão engloba todos os princípios do cristianismo e acrescenta algo, espiritualmente falando? Para mim, objetivamente, não.

Convém recordar que apesar da base judaica do Cristianismo, ele vai metamorfosear-se para uma postura de tolerância, perdão e humanismo. “Todo o homem é meu irmão”; “Oferecer a outra face…” e, muito relevante, o “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. Nada disto passou para o islamismo, que se mantém no rigor castigador do Deus impiedoso do Antigo Testamento.

Há mesmo uma passagem explicita, no Corão. Numa família judaica de Meca é identificado um caso de adultério. Conforme os códigos em vigor, o castigo será a delapidação da mulher. A família, no entanto, com pouca vontade de o aplicar e sabendo que há uma evolução da sua religião em que a mulher pode ser perdoada, faz questionar Maomé, na esperança de que uma conversão possa salvar a senhora. Infelizmente, para ela, Maomé confirma que no Islão esse código se mantém em vigor.

Quando se tentam mostrar as diferenças entre o Islão e as outras duas religiões do livro, evoca-se principalmente o episódio de Abrão, do sacrifício do filho e a troca pelo carneiro. Nas duas primeiras o filho é Isaque e no Corão é Ismail. Muda algo de fundamental? Entendo que não.

Relativamente às diferenças entre o Islão e o Judaísmo, excluindo a dimensão regulamentar, o que se pode fazer e o que é proibido, aliás com muito em comum, quais as diferenças na dimensão básica, espiritual… é um tema ao qual não sei responder, mas que suponho muito sensível.

Existem vozes, dentro do mundo muçulmano, algo críticas relativamente aos rigores regulamentares, alguns anacrónicos, interrogando e questionando os que querem transformar/transformaram a sua religião num catálogo de proibições. Não será por aí que ela acaba por se diferenciar…?

O que é certo é que apesar do que existe em comum, o Islão posiciona-se num não como uma religião diferente, mas superior às outras duas, que serão versões incompletas. Isto justifica algumas posições de não reciprocidade ainda na atualidade.

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