Há umas boas dúzias de anos, alguém me explicava como tirar
uma fotografia “a sério”. Vais com o fotómetro à cena e medes a luz. Arbitras a
focal e considerando a sensibilidade do filme, consultas uma tabela para ver qual
a abertura correspondente, para uma exposição correta e ajustas a máquina para
esses valores. Olhas pelo visor e rodas o anel de focagem até teres a máxima nitidez
onde a queres ter. Enquadras e disparas! Ufa..
Desde esses tempos, muita coisa evoluiu e se automatizou, tanto
que para uma larga maioria das fotografias, basta a última frase: Enquadrar e
disparar… Certo que em circunstâncias especificas dá jeito “ajudar” a máquina a
entender o que pretendemos em termos de exposição ou focagem, mas elas estão cada
vez mais inteligentes e até tentam adivinhar se queremos modo paisagem ou retrato,
por exemplo.
Hoje, é bastante difícil não ter uma foto tecnicamente
perfeita, dentro dos limites do equipamento, naturalmente. Focagem automática, equilíbrio
de brancos (tirar a cor da iluminação, caso não branca, da cor das coisas) e
gama dinâmica (quando uma imagem é demasiada contrastada para ter
simultaneamente detalhe nos escuros e claros não queimados), são tudo coisas
que deixaram de ter história e necessidade de intervenção manual
Até a redução de ruído, quando temos “grão” na imagem,
porque o fraco sinal não é visto de forma homogénea por todo o sensor, e que
começou por ser grosseiras pinceladas um pouco borratadas quando vistas de
perto, passou a ser muito mais fino e eficaz. Dizem que com a ajuda da IA.
Há, no entanto, uma coisa física em que a eletrónica não
resolve. A filtragem da polarização. A luz é uma onda que se propaga. Quando, analogamente,
sacudimos uma corda, podemos gerar ondas horizontais ou verticais. Isso serão diferentes polarizações.
Se fizermos essa corda passar por uma grelha vertical, por exemplo, as ondas
verticais passam e as horizontais são bloqueadas e vêm para trás… entendido até
aqui? (senão google 😊)
A luz do sol, que não tem polarização preferencial, em
certas circunstâncias, ao ser refletida, a reflexão é polarizada (só com uma única
direção de “oscilação”). Se fizemos passar essa luz por uma “grade ótica”, que
corta uma dada direção, e rodarmos a grade até chegar à direção especifica em
causa, essa luz não passa.
Um exemplo dessa reflexão é na água. Se colocar um “filtro
polarizador circular” em frente da minha objetiva e o rodar corretamente, posso
fotografar os peixinhos no fundo de uma poça de água, mesmo que os meus olhos ao
olhar diretamente apenas vejam a luz espelhada à superfície. A imagem acima é um
exemplo de duas fotos no mesmo local, com a polarização aberta e fechada.
Outro caso, muito interessante, tem a ver com o céu. O azul
que vemos, não é a cor do mesmo, é o resultado da sua iluminação pela luz do
Sol. Ao final do dia, noutras condições, até vai para os vermelhos. Há uma
componente refletida, resultando num céu mais esbranquiçado … e que é polarizada!
Se bloquearmos essa componente através do tal filtro, vamos ver um céu de um
azul muito mais escuro e bonito…
Acho que os algoritmos ainda não conseguem fazer isto!