Neste momento de transição é natural questionarmo-nos sobre o papel que o novo Papa e o Vaticano em geral poderão desempenhar no mundo actual. Em primeiro lugar, esclareço que sou agnóstico, criado em ambiente culturalmente católico. E isto é impossível de ignorar. Por muito que, por exemplo, quisesse agora converter-me ao hinduísmo, jamais o sentiria e entenderia da mesma forma que alguém criado nesse meio. Dentro desta matriz moral e ética, tenho sérias dúvidas quanto ao enquadramento do Vaticano. Exemplos: a opulência ostentada e as finanças opacas.
Qual o grau de liberdade do Papa? Age de acordo com a sua fé e coerente com a doutrina, ou é refém da teia de interesses políticos e económicos globais? Quando se refere a grande qualidade de peregrino de João Paulo II, recordo um caso próximo de nós que foi a sua visita a Timor-Leste ocupado pela Indonésia. Quando todos os portugueses e timorenses esperavam uma simples palavra de denúncia da tragédia em curso, o seu silêncio foi atroz e inexplicável. O que teria sido preferível? Ter criticado abertamente no Vaticano ou ter ido a Timor sem falar?
Dentro dos nomes potenciais para o novo papa, havia um, para mim, que se destacava claramente pela negativa: Joseph Ratzinger. A sua acção recente tinha sido redutora e autoritária. Mais "correctora" do que "inspiradora"; mais defensora da cidadela ameaçada do que impulsionadora do seu desenvolvimento. Mais preocupada em impor a toda a sociedade os seus princípios do que na promoção e adopção natural dos mesmos; mais centrada na disciplina do rebanho do que no desenvolvimento espiritual do homem.
Quando o Vaticano discute a "abertura" de permitir a comunhão aos divorciados "não culpados", mostra que está fora do tempo (...). Quase apetece ironizar e perguntar se não irá criar um tribunal próprio para julgar os cônjuges e condenar/absolver os culpados/inocentes e, já agora, certificar os cristãos puros como aqueles cuja actividade sexual é feita única e exclusivamente na perspectiva da procriação.
Como pode aconselhar e entender a família, se recusa a mulher como ser humano de pleno direito e os seus clérigos estão proibidos de a constituir e, por isso, de a conhecer?
De uma forma ou doutra, com maior ou menor intensidade, todos temos símbolos espirituais que nos escoram nas contrariedades, onde nos refugiamos nas incertezas e que nos abrem um horizonte para lá do evidente e trivial. No entanto, nas demonstrações de "popularidade" vistas em torno da figura do Papa não consigo descortinar mais do que manifestações exteriores de fé baseadas em aparências. Reconheço mais espiritualidade num respirar profundo e nuns segundos de silêncio na colina do Endovélico, num penedo sobre o Douro, frente a um simples castanheiro centenário ou ao fechar um grande livro do que no agitar excitado e frenético de bandeirinhas à passagem do "papamóvel".
Qual o grau de liberdade do Papa? Age de acordo com a sua fé e coerente com a doutrina, ou é refém da teia de interesses políticos e económicos globais? Quando se refere a grande qualidade de peregrino de João Paulo II, recordo um caso próximo de nós que foi a sua visita a Timor-Leste ocupado pela Indonésia. Quando todos os portugueses e timorenses esperavam uma simples palavra de denúncia da tragédia em curso, o seu silêncio foi atroz e inexplicável. O que teria sido preferível? Ter criticado abertamente no Vaticano ou ter ido a Timor sem falar?
Dentro dos nomes potenciais para o novo papa, havia um, para mim, que se destacava claramente pela negativa: Joseph Ratzinger. A sua acção recente tinha sido redutora e autoritária. Mais "correctora" do que "inspiradora"; mais defensora da cidadela ameaçada do que impulsionadora do seu desenvolvimento. Mais preocupada em impor a toda a sociedade os seus princípios do que na promoção e adopção natural dos mesmos; mais centrada na disciplina do rebanho do que no desenvolvimento espiritual do homem.
Quando o Vaticano discute a "abertura" de permitir a comunhão aos divorciados "não culpados", mostra que está fora do tempo (...). Quase apetece ironizar e perguntar se não irá criar um tribunal próprio para julgar os cônjuges e condenar/absolver os culpados/inocentes e, já agora, certificar os cristãos puros como aqueles cuja actividade sexual é feita única e exclusivamente na perspectiva da procriação.
Como pode aconselhar e entender a família, se recusa a mulher como ser humano de pleno direito e os seus clérigos estão proibidos de a constituir e, por isso, de a conhecer?
De uma forma ou doutra, com maior ou menor intensidade, todos temos símbolos espirituais que nos escoram nas contrariedades, onde nos refugiamos nas incertezas e que nos abrem um horizonte para lá do evidente e trivial. No entanto, nas demonstrações de "popularidade" vistas em torno da figura do Papa não consigo descortinar mais do que manifestações exteriores de fé baseadas em aparências. Reconheço mais espiritualidade num respirar profundo e nuns segundos de silêncio na colina do Endovélico, num penedo sobre o Douro, frente a um simples castanheiro centenário ou ao fechar um grande livro do que no agitar excitado e frenético de bandeirinhas à passagem do "papamóvel".
Não há dúvida de que escrever é um acto de coragem! Gosto destas ousadias.
ResponderEliminarTens o perfil ideal para ter um blog: tens assunto (sempre!), talento e o gosto de publicar. Ainda bem que te decidiste. Humanamente, vais ficar à espera que comentem os teus escritos, mas deves lembrar-te que o comentário escrito permanece e isso... obriga à mesma coragem!... Nem todos os visitantes a terão, o que não quer dizer que não gostem do que aqui lêem.
(Nas tuas próximas investigações sobre o blogger, tenta descobrir um espaço de comentário à margem dos textos, para este tipo de apreciação geral. Creio que já vi uma coisa do género por aí...)
Obrigado pelas palavras .... escritas
ResponderEliminarO ter comentários não é, para mim, um objectivo. No entanto, se quem lê concorda/discorda ou quer acrescentar algo, será sem dúvida interessante...